A Europa melhora e Portugal segue a tendência. Ao fim de 913 dias, eis que o nosso PIB cresce pela primeira vez 1,1 por cento em relação ao trimestre anterior. E até é o maior crescimento registado entre 21 países do Eurostat. Não podemos ter a certeza de que seja a tão almejada luz ao fundo do túnel, mas também não ganhamos nada em ignorar este sinal e não o tratar como podendo ser esperançoso.
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De todos os modos, qualquer que venha a ser o futuro deste sinal positivo de crescimento do PIB, dificilmente se transformará a breve trecho em melhoria ou deterioração substancial das condições de vida da maioria dos portugueses. Quero com isto dizer que o próximo período eleitoral autárquico, já no final do próximo mês, não decorrerá num quadro social muito diverso do atual e, assim sendo, as forças políticas deveriam procurar ler os sinais e os seus números o mais integralmente e resistir aos facilitismos das leituras parciais ou mais convenientes.
Estamos em presença de sinais que podemos ler separadamente ou tentando conjugá-los. Eis o que podemos fazer com este crescimento de 1,1 por cento do PIB (0,5 por cento acima da previsão mais otimista das várias que foram publicadas por universidades e bancos) se o fizermos acompanhar de outros sinais positivos registados com exportações ou investimentos, designadamente na construção, ou, por maioria de razão, com o recuo do desemprego de 17,7 para 16,4 por cento do primeiro para o segundo trimestre deste ano.
O PS, pela voz de José Junqueiro, logo na manhã de ontem, optou por não conjugar os sinais positivos e também não aceitou a leitura do crescimento do PIB na relação com o trimestre anterior, preferindo comparar períodos anuais homólogos e concluir que, afinal, estamos pior que por esta mesma altura do ano passado.
Trata-se de uma opção legítima e resultante das leituras verdadeiras possíveis: o PIB de junho deste ano é inferior ao de 2012.
A questão política é que ninguém estava à espera de sair da crise com um estalar de dedos. Apenas se aguardava pelo bater no fundo - sem morrer, para emergir. Ora é esta hipótese que está em cima da mesa porque depois de bater no fundo em boa verdade só pode acontecer uma de duas coisas: morrer ou principiar a subir.
José Gusmão, que, à mesma hora matinal, reagiu em nome do Bloco de Esquerda aos números, trouxe algum enriquecimento ao discurso das oposições. Simplesmente porque tentou explicar o sinal positivo do PIB: com as melhorias na economia europeia, com o aumento de capacidade da GALP em refinar e exportar e com o chumbo de algumas das medidas de austeridade do Governo pelo Tribunal Constitucional que terá assim travado a queda do consumo interno.