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Os surtos de covid na Área Metropolitana de Lisboa deveriam soar como um alarme para todo o país. Nas próximas semanas, os casos vão continuar a aumentar. Porque o desconfinamento tem consequências, porque chegarão cá turistas estrangeiros, porque as férias promovem mais mobilidade e outros comportamentos de risco e porque nós próprios estamos a baixar a guarda. As autoridades sanitárias têm de reforçar a comunicação no sentido de que o pior pode ainda não ter passado.
O espaço mediático tem devolvido imagens de um país mais relaxado: os políticos multiplicam deslocações e andam cada vez mais juntos, a Direção-Geral da Saúde suspendeu as conferências de imprensa diárias à hora do almoço e aquelas que promove têm um horário algo flutuante.
A covid deixou de estar no topo dos alinhamentos noticiosos. Por estes dias, falamos mais da TAP e menos do número de infetados e de mortes. É natural, mas isso não deveria implicar uma mudança de comportamentos. É preciso manter distanciamento social, usar máscara em ambientes fechados ou quando cruzamos com outras pessoas, higienizar as mãos, evitar tocar na cara, reduzir contactos sociais. Tudo isto será pouco compatível com o tempo de férias e com a vida ao ar livre, mas são regras básicas para controlar agora uma pandemia que poderá agudizar-se no próximo inverno.
Em diferentes geografias, fazem-se balanços daquilo que foram os últimos meses em termos sanitários e procura-se perceber o impacto financeiro resultante de um zeloso confinamento. Os políticos tentam equilíbrios entre a saúde pública e a promoção de uma economia em recessão.
É tentador dizer que nenhum Governo protegeu como deveria a saúde da população e a situação económica do país. Até a conservadora revista "The Spectator" assumia ontem em capa que o primeiro-ministro britânico tem pela frente uma "missão impossível", se quiser promover a saúde pública e, ao mesmo tempo, salvar a economia. Em França, os resultados das eleições municipais acenderam um sinal vermelho a Emmanuel Macron.
Os cidadãos começam a manifestar alguma insatisfação. A todos os níveis, incluindo o da proteção individual. No entanto, é preciso relembrar que este vírus continua entre nós. E pode revigorar no inverno. Por isso, torna-se imperioso preparar várias frentes e continuar sempre a comunicar os atuais riscos a toda a população. Em Portugal, essa missão pertence à Direção-Geral da Saúde. Que não poderá falhar.
* Prof. associada com agregação da UMinho