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Para dar conta ao país do fim da sua tolerância com o Governo de Sócrates, Pedro Passos Coelho exclamou: "Esta peça de teatro acaba aqui". A afirmação tem uma certa coincidência com aquela do presidente Cavaco Silva, na tomada de posse: "Há limites para os sacrifícios pedidos". A eficiência da coincidência poderá avaliar-se melhor depois da conversa que os dois, hoje, terão em Belém.
O drama, porém, é que "esta peça não acaba aqui". Tenho admirado a paciência de Passos Coelho. Mas, quando olho para a sua cara, pressinto-o assustado com a carga que lhe vai cair nos ombros. E estou em crer que se não fosse a pressão que vai sentindo no interior do partido não era ainda que perderia a paciência.
O país atingiu o limiar máximo da contracção com as sucessivas medidas de austeridade. Não têm faltado os diagnósticos da deprimente situação. Nem tão-pouco as responsabilizações sobre o Governo de Sócrates. Mas o problema nem é o diagnóstico. O problema é como vamos sair daqui. De facto, Sócrates para sobreviver a este segundo mandato cometeu erros graves. Parou com as reformas anunciadas e, algumas, em curso, Educação, Justiça, Administração. Aumentou, não de forma desmesurada para os níveis baixos que esses tinham, mas pelos fundos que o Estado não tinha, as despesas com ordenados, subsídios, etc.. Ao levar a Merkel as medidas do PEC IV, sem dizer ao PR, sem indicá-las ao Parlamento, abriu as portas ao sempre adiado ciclo eleitoral. Mas sem ver respostas a determinadas situações continuarei a pensar que "a peça não acabou aqui".
Quem manda no actual "consórcio europeu"? Cada país ou os países líderes? Tem a Assembleia da República força para face aos compromissos da "dívida soberana" dizer: "aqui, quem manda somos nós"? Quando aderimos à Europa dos ricos tivemos consciência dos compromissos a que estávamos sujeitos? Contrair a dívida foi fácil, mas para pagá-la não há amigos. Não queremos, mas se formos obrigados a sair, já medimos as consequências e temos capacidade para isso? Teremos reparado que a última sequência do "projecto Europa" era o fim de cada "nação soberana"? Em que dia é que a Europa nos deixará aplicar as políticas alternativas do PCP e do BE? Serão a Moody's ou o FMI a garantia da nossa independência?
Sem quererem "agarrar-se", despudoradamente, à "geração à rasca", será que os nossos políticos já perceberam que o Mundo mudou e para que mudou?
Mas, como são os discursos o grande sustento da nossa soberania, já temos os de ontem para soletrar.