1. Lemos a profecia de Emmanuel Macron, pouco depois de o presidente francês ter estado uma hora e meia ao telefone com Vladimir Putin, e tomámo-la como apocalítica.
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"O pior está para vir". Como assim, se aquilo que tinha vindo sob a forma de uma guerra no continente do progresso civilizacional já era terrivelmente mau? O ataque e tomada de controlo da maior central nuclear da Europa por parte das tropas russas está aí para nos provar. Há sempre um pedaço de fundo novo neste buraco sem fundo em que estamos. E também por isso seja avisado contermo-nos nos vaticínios definitivos de que Putin está a perder a guerra porque não a ganhou na primeira semana. Isto está apenas a começar. Neste banho de sangue só há derrotados. Não percamos o sentido dessa bússola moral.
2. Era previsível, mas agora começamos a perceber que o pior também está para vir no preço que, deste lado ocidental e periférico da Europa, vamos pagar por tudo, em particular pelos combustíveis, gás e eletricidade. O aumento, já na próxima semana, de 14 cêntimos no litro do gasóleo (a maior subida semanal de sempre) e de oito cêntimos no litro da gasolina vai gerar efeitos dramáticos numa economia tão frágil e assente em salários baixos quanto a nossa. Olhando à conjuntura, é apenas natural que Portugal também seja arrastado por esta torrente. Esperava-se, ainda assim, que o Governo fizesse um pouco mais do que ressuscitar o Autovoucher, mesmo que o brinde agora possa ascender a 20 euros por mês. Esperava-se que pudesse desonerar com outra ambição o peso dos impostos no valor final dos combustíveis. Mas a realidade é o que é: as contas públicas precisam do dinheiro destes impostos como de pão para a boca. Há valores que são à prova de crises. E à prova de conflitos militares. Mesmo que o pior, também nesta guerra económica, ainda esteja para vir.
*Diretor-adjunto