Corpo do artigo
A ficção científica já inventou muitas formas dos robôs aniquilarem a humanidade e, sendo certo que já estivemos mais longe de viver num Mundo controlado por máquinas, a ideia de um exército de robôs em fúria ou de uma revolta de eletrodomésticos é bastante improvável. Por outro lado, a aniquilação continua na ordem do dia e a sua proximidade agiganta-se. O que não foi previsto é que os robôs extinguiriam a humanidade através das alterações climáticas.
Venderam-nos uma digitalização verde, crucial para a transição energética, mas ao que parece, com o advento da inteligência artificial a coisa mudou de figura. Os seus sistemas de processamento de dados são um fortíssimo contributo para as emissões de carbono e um sorvedouro de energia elétrica em crescimento exponencial e estima-se que em 2026 os centros de dados necessários à IA tenham um consumo energético equivalente a um país como o Japão.
Posto de outra forma, uma simples pesquisa no Chat GPT gasta dez vezes mais energia do que uma pesquisa Google e este consumo tem tendência a crescer, à medida que a sofisticação dos sistemas for aumentando. Por outro lado, segundo os otimistas, a IA pode ser uma importante ajuda na luta contra as alterações climáticas, por exemplo na otimização de sistemas elétricos. A questão é que, além de não ser líquido que possa vir a ser uma ajuda significativa, até lá, pode tornar-se a gota de água final para acelerar o descalabro.
Para alimentar a necessidade de produção energética que os servidores da IA necessitam, as grandes empresas da big tech estão a apostar tudo em energia nuclear, tentando reanimar centrais desativadas e investindo em empresas da área. Sendo uma fonte de energia com baixas emissões de carbono, segue não sendo uma solução consensual, dados os “traumas” do passado e o risco que acarreta (ou a sua perceção).
Certo é que o crescimento da IA é um processo imparável e as soluções nucleares, mesmo que sirvam para alimentar a sua fome voraz por energia elétrica, ainda demorarão a corresponder à demanda, se é que poderão alguma vez dar resposta, quando esta cresce exponencialmente a cada dia.
No meio de tudo isto, qualquer pessoa sensata põe as mãos à cabeça, pois se andamos a alertar para a necessidade de reduzir os consumos e as emissões em todas as esferas da nossa vida, exigindo políticas públicas que controlem os impactos ambientais dos estados nação, assinando pactos e investindo em renováveis, como é que podemos ficar impávidos enquanto os grandes gigantes da tecnologia alimentam os seus servidores a doses cavalares de “pão de ló”? Enfim, os robôs são realmente surpreendentes. Quem diria que nos iam pôr a repensar o nuclear, para depois nos matarem de calor e de escassez...