Fernando Alexandre, ministro da Educação, expressou-se mal. Queria dizer uma coisa e saiu-lhe outra. Desejou defender uma política que juntasse miúdos ricos e pobres, classe média e remediados, mas o que deu a entender foi o contrário. No entanto, se o voltarmos a escutar sem a faca da cozinha pronta a feri-lo, percebemos que falava de um outro tema que é tão grave como o de alegadamente ser preconceituoso com os pobres: o de as verbas de financiamento, neste caso em relação às residências universitárias, serem sempre muito mais baixas quando são apenas os carenciados a delas beneficiar. É um ajuste direto a uma expressão que todos conhecemos: "para quem é bacalhau basta". Fernando Alexandre não soube explicar, deu-se à morte e o sangue da ferida abriu o apetite de uma multidão em fúria. Como se, de repente, nos tivessem premiado com um bife do lombo daqueles que, raramente, nos passam pelo estreito. Sou insuspeito de simpatias políticas à Direita - e como este Executivo guinou para fora do pé da social-democracia! -, mas a história política e cívica de Fernando Alexandre deveria ter permitido que, ao menos, alguns dos que o atacaram lhe dessem o benefício da dúvida. Muitos não o fizeram. Aproveitaram a gafe, ou o facilitismo na argumentação do ministro, para desencadearem um ataque sem nexo. Neste tempo difícil em que estrebuchamos de certezas e dogmatismo, é decisivo que se pare para pensar. A começar pelo PS, que tem especiais responsabilidades. Explicarei amanhã porquê.
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