A nona reunião das "elites" com os "especialistas" por causa da pandemia, que decorreu no auditório do Infarmed, acabou em modo latino-americano.
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Os "especialistas" iam dizendo de sua justiça, e respondendo com os factos possíveis às interrogações dos beneméritos. Ainda na outra semana, a sra. Temido tinha confessado estar em dificuldades (ela e o "sistema") para identificar as novas cadeias de transmissão. Afirmaria, aliás, que nem durante o confinamento de Março e Abril, no Porto, teriam ocorrido tantas transmissões.
Aí, segundo sucessivas crónicas do evento, o explosivo dr. Costa ergueu-se da cadeira e reduziu Temido a pó com um sonoro "é mentira, o país nunca esteve em confinamento". Costa queria apenas "detalhes" de Lisboa para saber o que fazer, "porque assim não sabe", gritou ele à assistência de máscaras. Entretanto, já um senhor da E.N. de Saúde Pública sugerira timidamente que, em Lisboa, estar-se-ia "de certo modo numa segunda vaga". Costa não voltou a sentar-se, virou-se para o presidente da República e chutou-lhe "senhor PR, então vemo-nos daqui a 15 dias", terminando a reunião. No meio de tanta fúria e farsa, não se esqueceu de mencionar que "até trouxemos a Champions". Cá fora, nada disto transpirou da conversa presidencial com os órgãos de Comunicação Social. Marcelo perdeu-se em detalhes, pelos vistos incompletos, que as perguntas também não ajudaram a destrinçar.
Foi preciso esperar pelos partidos, salvo o PS, para entender o exercício musculado do PM. O presidente do CDS e, talvez, a senhora da IL resumiram bem o que o mambo jambo presidencial não permitira deliberadamente dizer. Rui Ramos explicou isto no "Observador", ou seja, este exemplo edificante de governação, com uma "teoria geral do costismo". Costa nunca perde uma ocasião para exibir o seu poder. E para rebaixar os interlocutores como a um ovo. Tem o poder, a única coisa que lhe interessa, independentemente de governar bem ou mal.
O leitor perguntará: e Marcelo? O seu biógrafo Vítor Matos respondeu no "Expresso" de sábado. O PR não quer "afrontar" o Governo porque o combate à pandemia exige um consenso máximo que acabou graças à violência política típica de Costa na aludida reunião. Como o que parece é, a Costa (nem sequer à sra.Temido, coitadinha) só interessa a imagem, nem que a imagem venha distorcida. A Marcelo, por outro lado, importa não incomodar respeitosamente o poder porque é o primeiro a ir a votos. Como diria Salazar, está tudo bem assim e não podia ser de outra forma.
O autor escreve segundo a antiga ortografia
*Jurista