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Não vale a pena começar a acreditar nas fadas, nem ir a correr para a bruxa. O resultado das eleições holandesas não é de molde a que os partidos tradicionais façam a festa, mas também não foi a vitória do populismo protagonizado pela farta cabeleira branca de Geert Wilders, que muitos previam na era pós-Brexit e pós-Trump.
O líder do Partido da Liberdade perdeu as eleições para o Partido Popular para a Liberdade e a Democracia, do atual primeiro-ministro, Mark Rutte, aumentando ligeiramente a sua percentagem de votos, mas ficando até abaixo do resultado que tinha conseguido em 2010, quando chegou aos 15,5%, em contraste com os 13,1% que obteve agora.
Quem sofreu foi o partido da família socialista, o Partido do Trabalho, que governou em coligação com Mark Rutte sob o signo da austeridade, e pagou essa aliança descendo de 39 para 9 deputados. Dá para pensar no que poderia acontecer aos socialistas portugueses se, no tempo de António José Seguro, tivessem cedido à tentação de umas eleições antecipadas de onde poderia ter saído um bloco central para governar ainda sob os ditames da troika.
Muitas capitais europeias respiraram de alívio perante a derrota da força política que, nas palavras de Augusto Santos Silva, propunha "romper com a União Europeia e o seu modelo democrático e social". Mas vale a pena continuar a conter a respiração durante mais um pouco. É que as eleições holandesas vieram confirmar a tendência do eleitorado de fugir aos tradicionais partidos de governo, dispersando o seu voto em alguns casos por forças políticas na margem do sistema. Sabemos bem como na Bélgica, na Grécia ou em Espanha isso redundou em períodos de instabilidade política e em soluções governativas complicadas.
E é preciso também perceber que se Geert Wilders perdeu, vai continuar a vender cara a pele. Por um lado, porque diversos partidos, provavelmente alguns dos quais serão chamados a formar Governo, incorporaram no seu discurso algumas das linhas de Wilders, nomeadamente o seu euroceticismo e a desconfiança em relação ao Islão e à emigração. Por outro lado, uma coligação de vários partidos, unidos na rejeição de Wilders, poderá, de alguma forma, vir a dar-lhe razão quando diz que os outros partidos são todos iguais.
É uma Holanda ainda contaminada pelo populismo que sai destas eleições e só uma governação firme e positiva ajudará a afastar os demónios que continuam à solta.
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