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É a mesma coisa que dizer Porto. Ponto. Por isso, gosto muito da nova marca para a cidade que o presidente Rui Moreira acaba de nos apresentar. De uma forma mais urbana a nova marca capta aquele "je ne sais quoi " que faz com que toda a gente perceba que estamos a falar do Porto.Também gosto porque é azul, o azul de um dos dois embaixadores internacionais da cidade - o FCP - a quem, sinceramente, espero que a Câmara Municipal passe a prestar a devida e interesseira (porque só beneficia a cidade) atenção institucional.
Do lado mais técnico andou bem o autor ao conceber um desdobramento gráfico que permita uma utilização diversificada e flexível, assim facilitando que seja verdadeiramente assumida por todos.
Sugiro, desde já, que seja licenciada a custo zero a todos os que tenham interesse em utilizá-la (na sua matriz principal e estimulando o aparecimento de novos símbolos de suporte). Ou seja, se uma unidade de alojamento local (UAL) que se dedica a receber turistas pedir para usar o "Porto." mais um símbolo gráfico associado à imagem do seu UAL deve poder fazê-lo segundo regras simples e claras a estabelecer pela Câmara. O mesmo para um restaurante, uma loja, uma escola, etc., etc......
As lojas de rua, por exemplo, podem colar em todas as suas montras autocolantes do novo símbolo da cidade. Se não for capilarmente assumido não é nosso!
Claro que a nível institucional tudo deve ser feito para que as instituições de referência assumam na sua comunicação o símbolo como marca umbrella que as localiza e as beneficia.
Estou a falar de Serralves, da Casa da Música, do Hospital de S. João, de Sto. António e os outros todos, das universidades e das bibliotecas, dos auditórios, dos jardins e dos parques. Fazem parte de cadeias nacionais, são instituições privadas com marca própria? É certo. Mas partilham um lugar que tem isso de especial. É o Porto. E ponto.
Não é fácil, mas pode ser feito desse que gerido a partir da Câmara por profissionais que entendam e valorizem o poder do Marketing de Cidades.
Curiosamente são duas das palavras que mais influência têm no nosso futuro global coletivo.
Segundo um estudo de Ricky Burdett, professor de Estudos Urbanos na London School of Economics, neste momento, 54% da população mundial vive em cidades. Estima-se que sejam 75% em 2050. Há três gerações, em 1900, apenas 10% da população vivia em cidades. Ora isto mostra a velocidade a que esta concentração urbana se tem gerado. Em cidades como Bombaim ou Lagos registam-se aproximadamente 35 a 45 nascimentos ou entradas de pessoas, por hora! São mais de 300 mil por ano. O impacto desta concentração nas infraestruturas - saneamento, energia, habitação, escolas ou hospitais é devastador.
Claro que esta realidade nada tem a ver com o Porto. Infelizmente ainda estamos a perder população. Mas mostra claramente qual o tipo de entidade territorial que é e será cada vez mais significativa. E mostra ainda que os seus habitantes, cidadãos, exigirão sempre respostas competitivas para se fixarem ou manterem nesses agregados. A nível europeu, a crise demográfica que nos aflige trará ainda um desafio acrescido. Viveremos todos em cidades (porque é muito caro manter populações dispersas no campo) mas como somos poucos iremos digladiar-nos para captar população.
E aí de pouco servirá uma marca que não seja o resultado, o corolário de uma estratégia.
Ou seja, para que a marca seja um "ser vivo" que dá rosto à cidade tem de conter em si a história e a memória, que é como quem diz as pessoas, a cultura e a língua, as infraestruturas coletivas, as redes (transportes, energia, telecomunicações, água e saneamento, etc.) e a qualidade paisagística, urbana e edificada.
Se tudo isto ou alguma parte disto não corresponder ainda à limpeza e beleza do objeto gráfico então temos de perceber como é que lá se chegará.
Sob pena de nos atingir um feitiço inverso ao de Dorien Grey e o seu retrato. Numa cidade onde a beleza não se suporte numa expressão inteligente, a marca fica jovem para sempre, enquanto o Porto envelhece e enruga. Ponto.