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O PS foi o grande obreiro do Porto moderno. Na década em que governou a cidade, vimos surgir o metro, a VCI, o Parque da Cidade, a Porto 2001, o Património Mundial, o Rivoli, Serralves, novas pontes; assistimos ao fim das barracas e à despoluição do Douro... Era o partido que catalisava o povo e as elites. Deu voz e deu mundo à cidade. Mas o legado não sobreviveu à saída de cena dessa geração de autarcas socialistas. O pouco que dele restava foi desmantelado pela atual liderança do PS Porto: ausência de rasgo e de iniciativa, abstinência de confronto com o PSD, renúncia a entendimentos à esquerda, mutismo nas reuniões de Câmara, descaso pela sociedade civil, aniquilação do debate interno, saneamento das vozes destoantes, caciquismo patológico.
O PS apagou-se a si mesmo porque alimentava o desejo de que Rui Moreira nalgum dia lhe desse a bênção e o investisse como legítimo sucessor. No mais, limitou-se a fazer prova de vida eleitoral a cada quatro anos. Tornou-se quase irrelevante na cidade. É por isso que mesmo uma campanha alegre, como foi a de Manuel Pizarro, com um adversário débil e de escassa notoriedade, redundou em nova derrota a 12 de outubro.
Depauperado de quadros políticos, inóspito para os jovens, com secções bafientas, o aparelho é hoje um plácido rebanho. A Comissão Política Concelhia tornou-se uma corporação de sonâmbulos que valida, sem tugir nem mugir, as decisões tomadas pelos seus "proprietários": aceita que a mesma pessoa seja por três vezes o cabeça de lista à Câmara, como aceita o ex-delfim de Valentim Loureiro a número dois; aceita não ter uma palavra a dizer sobre alianças eleitorais; tolera candidatos que aparecem como proponentes de uma candidatura adversária... Já em 2021, uma vereadora eleita pelo PS foi dar a Rui Moreira a maioria absoluta que o povo lhe tinha tirado nas urnas.
Em vez de fazer germinar quadros políticos dignos desse nome, o líder da Concelhia fez da estrutura um veículo de exclusiva publicitação pessoal, passando em silêncio o trabalho dos demais eleitos.
O definhamento é indisfarçável e tem responsáveis. O afastamento destes é condição imprescindível para a reabilitação da estrutura, que será longa e sofrida.
O PS Porto merecia melhor. E o Porto merecia melhor PS.

