Há um descendente português a causar grande polémica por estes dias na Casa Branca, em Washington. Não, os obedientes cães-de-água portugueses Bo e Sunny, que fazem as delícias da família Obama, não estão a deixar ficar mal a secular simpatia portuguesa. O caso é mais grave e está a agitar a generalidade da agressiva imprensa norte-americana credenciada na residência oficial do presidente.
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Pete Souza, um descendente luso de açorianos, é o fotógrafo oficial de Barack Obama e está no centro de uma crise que ameaça afetar a imagem de independência do próprio presidente dos Estados Unidos ou, pelo menos, manchar a forma como o seu segundo mandato está a permitir o acesso à informação jornalística aos repórteres de imagem.
O lusodescendente conheceu Obama em janeiro de 2005, era o atual presidente um então simples senador no Capitólio da capital americana. A boa relação entre os dois foi quase imediata. Souza, então fotógrafo do circunspecto "Chicago Tribune", recolheu um conjunto de imagens que, no essencial, documentava o primeiro ano do senador Barack Obama. Editou um livro que, num ápice, se tornou um invejável "best seller" do "The New York Times". Foi amor à primeira vista. Pete Souza tornou-se, sem grande surpresa, fotógrafo oficial de Obama e da primeira-dama. O pior veio depois.
Com uma invejável influência junto do todo-poderoso presidente da principal potência mundial, Souza começou a imprimir um apertado controlo no acesso a Obama que está a irritar os grandes e não menos poderosos jornais e agências noticiosas dos Estados Unidos. As acusações têm-se multiplicado. Para os seus outrora colegas fotógrafos, Pete de Souza faz propaganda e Obama é cúmplice na crescente limitação no acesso a imagens do presidente. Nunca antes se viu coisa assim na Casa Branca. Nem Bush foi tão longe nas restrições às movimentações dos jornalistas. A gota de água foi a recente deslocação do presidente norte-americano à África do Sul para participar nas cerimónias fúnebres de Nelson Mandela. Todos os fotógrafos - mas não Pete de Souza - foram impedidos de registar as imagens da família a bordo do Air Force One. Resultado: 35 organizações noticiosas rubricaram um abaixo-assinado contra as restrições que consideram inadmissíveis por parte de um presidente de um país que tem na liberdade de imprensa um dos pilares da sua Constituição. Desde que Souza passou a ter acesso privilegiado a Obama que as suas fotografias são, muitas vezes, as únicas a retratar o dia a dia do presidente. São imagens imaculadas. Ora felizes, ora cirurgicamente emotivas. São, acusam os jornalistas credenciados junto do presidente, fotos ao melhor estilo soviético, e as acusações ainda só agora começaram.
Neto de emigrantes açorianos, Pete Souza confessou um dia em entrevista o seu sonho de regressar ao arquipélago do Atlântico para fotografar as suas bonitas ilhas. Talvez nessa altura se livre da polémica. Até lá, vai continuar a ser acusado de limitador da liberdade dos colegas e de manipulador da imagem de Obama. Algo que um currículo como o de Pete de Souza dispensava bem.