A palavra "concertação" ganhou um novo significado, ainda que, desconfio, só possa ser aplicado, e bem desta vez, em Portugal.
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Ana Mendes Godinho, a ministra do Trabalho, declarou, à saída do encontro da Concertação Social destinado a fixar o salário mínimo, que "nunca houve o objetivo de um acordo", o que contraria o conceito e o desígnio primordial das reuniões entre Governo, representantes dos patrões e dos trabalhadores. Compreende-se. Caso contrário, não havia aumento nenhum.
Vá lá que o salário mínimo sobe 35 euros no próximo ano, para 635, portanto. Não sendo muito, é melhor do que nada para os cerca de 800 mil trabalhadores que têm de pagar casa, comida, saúde e os desvarios da Banca, pela via dos impostos, com esta fabulosa fortuna mensal.
No final da reunião da Concertação, as grandes preocupações das confederações patronais já residiam nos "fatores de competitividade" e nas responsabilidades que o Estado deve assumir na componente social do salário mínimo. Ou seja, este gigantesco aumento de 35 euros deixou imediatamente os patrões, digamos, inconformados e de mão estendida.
Ao contrário do que diria, mais tarde, no Parlamento, a deputada Joacine Katar Moreira, o salário mínimo, como se vê pelos lamentos e exigências dos empregadores, não é uma questão de amor. É de justiça social, explicou o primeiro-ministro, António Costa, apesar de continuar a ser uma injustiça tremenda para quem o recebe, porque é manifestamente escasso face ao custo de vida em Portugal.
O diálogo e o amor podem ser a solução para quase tudo em toda a parte. Com uma pequena exceção no nosso país: desde que não implique um aumento de salários. Quando o amor tem um preço traduzido em euros, o melhor é cortar a paixão pela carteira.
Editor-executivo