Corpo do artigo
O que é, afinal, o preconceito? É uma opinião formada sem conhecimento de causa ou análise séria ao tema em causa. É uma generalização apressada, cheia na aparência, mas vazia na essência. É um sentimento hostil sem base que o sustente. "É mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito", dizia, com graça mas cheio de razão histórica, Albert Einstein.
O que tem o preconceito a ver com o calçado? Tudo. Porque foi preciso vencê-lo, uma e outra vez, para libertar as energias do setor. Os resultados estão à vista, como adiante se verá. Em certo sentido, ao calçado aplica-se hoje o que Montesquieu escreveu há muito. "As viagens dão uma grande abertura à mente: saímos do círculo de preconceitos do próprio país, e não nos sentimos dispostos a assumir aqueles dos estrangeiros". Ora, o calçado fez uma grande viagem nas últimas duas décadas e, pelo caminho, derrubou os "preconceitos do próprio país", não precisando de rejeitar os estrangeiros, porque se impôs usando a única linguagem que os negócios conhecem: preço, qualidade, competitividade.
O setor apresenta hoje o programa FOOTure 2020 - as linhas mestras com que pretende coser o futuro, que está aí, e não sair dele cozido. A cerimónia tem um embrulho bonito, porque segue-se a uma conquista de monta: com a campanha "Calçado português - a indústria mais sexy da Europa", o setor ganhou o Prémio Europeu de Promoção Empresarial, na categoria Apoio à Internacionalização da Europa. Derrotamos um concorrente de monta: a candidatura francesa da região Champagne-Ardenas.
Olhar para trás interessa apenas para fazer o balanço: as vendas para o exterior cresceram 21%; o preço médio por par de sapatos pulou 25%; o valor acrescentado disparou; 2013 será o ano recorde das exportações (1,7 mil milhões de euros); o mapa--múndi do calçado já tem vários pionés na China, nos EUA e na América Latina; os criadores portugueses são cada vez mais conhecidos lá fora; o ajustamento está feito; e por aí fora......Claro que se o setor tivesse apenas investido na promoção externa e na internacionalização a média do que investiu o resto da indústria (cerca de 5%, contra quase 50% do calçado), é bem provável que estivéssemos aqui a falar de outras contas!
Olhar para o futuro, com a mesma vontade e o mesmo empenho de todos, é o desafio. Um dado como exemplo da altura da montanha que está à frente do setor. Para alcançar a Itália na liderança do preço por par de sapatos (Portugal está no segundo posto) é necessário um pulo de 30% na valorização do produto. Impossível? O professor Alberto Castro, peça importante deste puzzle de sucesso, dá a receita: "Colocar a indústria do calçado na agenda do emprego, atrair jovens qualificados, talentos nacionais e estrangeiros, aproveitar a boa imagem do setor para alimentar esse processo".
Vamos a isso. Sem preconceitos.