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Quem usou quem para ganhar ascendente planetário? Quem é que dá verdadeiramente as cartas na relação indecifrável entre Elon Musk, o magnata excêntrico que é hoje o maior guru da extrema-direita mundial, e Donald Trump, o presidente eleito da todo-poderosa América? Há uns meses, diríamos que o apoio financeiro concedido a Trump pelo dono da Tesla, Space X e rede social X (foi o maior financiador da campanha do republicano) teria como moeda de troca a concessão de favores industriais; hoje, não é bem assim. Musk deixou de ser o “first buddy” de Trump para se tornar numa sombra ativa de Trump. Uma espécie de presidente não eleito que mantém o presidente eleito refém de uma aparentemente inesgotável torneira de dólares.
De resto, a influência política do homem mais rico do globo já extravasou as fronteiras norte-americanas e chegou a solo europeu. Musk declarou o apoio à extrema-direita alemã, na forma de um artigo de opinião num jornal conservador germânico. E está a minar a política britânica, com repetidas acusações ao Governo e apelos à libertação de um ativista de extrema-direita. No meio de tanto ruído, não é fácil perceber se a “guerra” que Musk está a declarar à Europa tem o patrocínio de Trump ou se, em oposição, os impulsos do génio da tecnologia são a tradução de que age sem freio institucional. E é nessa incógnita que reside a maior inquietação. “Trump is a little guy, and Musk is a big guy”, ilustrou, a esse propósito, o historiador Timothy Snyder, referindo-se ao facto de o primeiro ser incapaz de pagar as suas dívidas e de o segundo ficar enfadado com a sua fortuna. No fundo, de como o verdadeiro detentor do poder não é o mais óbvio. Se olharmos apenas para a marioneta não reparamos no manobrador da marioneta.