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Com inspiração apostólica - coisa rara na laicidade socialista - 12 sábios, assim tidos por alguma imprensa, apresentaram um cenário macroeconómico e propostas que o PS fez seus. Infelizmente, não se lhes conhecem capacidades proféticas. Sendo que, por definição, a economia e as finanças não são dadas a milagres. Talvez por essa razão, em comentário à preleção, António Costa desabafou estar "cansado da ideia de sermos governados por modelos económicos. É necessário reafirmar o primado da política", disse.
Sucede que sabemos exatamente o que isso significa. Quando o que importa são votos, mas a economia e as finanças não aconselham abundância nas promessas, a Esquerda tende a rejeitar a prudência das boas contas, para afirmação da vantagem dos belos discursos. A técnica, semanticamente, assume a designação de "primado da política". E invariavelmente, termina na bancarrota. Entre o que o PS quer e o que a maioria do PSD e do CDS propõem, medem-se contrastes nítidos.
Quando o PS assume o primado da política, cada frase e cada palavra contam, porque ao contrário do que sucede na economia, a matemática explica pouca coisa na retórica. Nessa medida, o facto de António Costa ter renegado o Pasok como parceiro histórico, para afirmar no comentário aos resultados das últimas eleições na Grécia, que "a vitória do Syriza é um sinal de mudança, que dá força para seguir a mesma linha", tem todo o significado. A frase não é equívoca, nem dada a segundas interpretações.
Seis anos de governação socialista colocaram Portugal intervencionado, a par da Grécia, na pior das avaliações. Quatro anos com o PSD e o CDS no Governo, distanciaram Portugal da Grécia, numa evidência que o Mundo inteiro destaca.
Portugal terminou com sucesso o ciclo de ajustamento, fez cessar a intervenção da troika, conseguiu crescimento depois da recessão e apresenta um conjunto de indicadores macroeconómicos favoráveis, que fazem toda a diferença. Mas foi na Grécia do Syriza, que António Costa viu o bom exemplo e a força para seguir na mesma linha, quem sabe se com João Galamba, um dos "sábios", no papel de Varoufakis à portuguesa. O país inteiro já viu este filme entre 2005 e 2011. E não gostou. Pagou muito caro o bilhete e dispensa ser figurante de outra tragédia grega.
A renovação da coligação entre o PSD e o CDS para as próximas eleições legislativas reafirma o primado da razão e do bom senso, através da política, com respeito pelo esforço dos contribuintes, na salvaguarda do bem comum. Exatamente aquilo que Portugal não poderá dispensar.
As eleições legislativas são já no final do ano.