Começo com uma afirmação polémica: não votei no PAN. Quem diz isto é olhado de lado como se tivesse acabado de revelar que votou no André Ventura.
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Se antes, quando queríamos ser cool, dizíamos que conhecíamos o porteiro do Lux ou que não tínhamos televisão em casa, agora o que confere coolness é votar PAN. Pela primeira vez em muito tempo, e num país em que mais de metade da população não vota, há um partido popular (e não me refiro ao CDS), que faz com que as pessoas deixem de usar aquela desculpa do "voto é secreto" para evitarem revelar aos amigos em quem fizeram a cruzinha. Por vezes é embaraçoso, bem sei, porque cheguei a votar em Isaltino Morais (perdoem-me, tinha 18 anos e achava que as rotundas de Oeiras eram, de facto, belíssimas). Dizer que se votou PAN é um statement. De uma cajadada só - não matamos coelhos, que o PAN acha que essa expressão aleija - mas podemos mostrar que somos antissistema e amigos dos animais, qualidades sempre apreciadas. Esta atitude corresponde a duas frases muito repetidas em cafés (nem sei como Ventura não as aproveitou): "os políticos são todos iguais" e "quanto mais conheço as pessoas mais gosto dos animais".
O PAN obteve uma votação histórica, elegendo tantos deputados como o partido de Cristas (logo ela, que também está tão perto dos animais, nomeadamente na Golegã). A verdade é que sabemos pouco sobre o PAN. Tanto eu como, acredito, quem neles votou. Duvido que tenham lido o programa eleitoral, tal como não lê quem vota noutros. A diferença é que já ouvimos os restantes falar há décadas sobre as mesmas coisas, já conhecemos as suas ideias, da mesma forma que conhecemos as histórias da nossa tia-avó, que insiste em repeti-las nos almoços de domingo como se fossem frescas. O PAN é o equivalente àquele primo que esteve emigrado no estrangeiro durante décadas e de repente nos bate à porta na consoada. Trouxe da Holanda ideias progressistas, sobre partos dentro de água e homeopatia para curar o cancro, e umas calças daquelas que se usam muito no Andanças. Inicialmente torna-se o centro da festa, todos queremos ouvir os seus relatos sobre salvamento de cães. Mas à medida que o primo vai ganhando poder de decisão, ao ponto de trocar a habitual ceia de Natal por estufado de seitan, começamos a não achar tanta graça.
O DN entrevistou alguns apoiantes do PAN, e é impossível traçar um retrato robot: podem ser de Esquerda, Direita, gente que nunca votou ou que sempre que ia votar desenhava um pirilau. Podem ser vegan, como Rodrigo, de 38 anos, ou simpatizantes do PNR, como Catarina Araújo, de 34. Ambos os casos me fascinaram. O primeiro porque parece partir da sua dieta para decidir o sentido de voto. Espero ansiosamente pela criação do PPN: Partido Paelo e Natureza, para que haja alguém a defender os benefícios das carnes vermelhas e da batata-doce, no Parlamento. Já no exemplo da Catarina, espanta-me que tenha simpatia por políticas antirrefugiados, e depois vote PAN porque se preocupa com os animais. Ou seja, se chegar à nossa fronteira um refugiado sírio acompanhado pelo seu fiel companheiro, Catarina acha que só um deles deve pisar território nacional: o que tem quatro patas.
O PAN começou por ser Partidos pelos Animais, juntou-lhe a Natureza, e mais tarde então as Pessoas, e foi aí que alcançou o sucesso. Para continuar a crescer é provável que vá juntando outras palavras que garantam votos: Partidos das Pessoas, dos Animais, da Natureza, do Benfica, do Sporting, do Porto, do Tony Carreira, da Cristina Ferreira e do Ronaldo.
A grande vantagem do PAN nestas eleições foi não ser propriamente um partido, nem ser composto por políticos, mas sim por praticantes de biodanza e de reiki. O PAN parece um projeto de área-escola: para 9.º ano está ótimo, mas um pouco monotemático. Na verdade está mais perto de ser uma associação do que um partido. Se isso está a valer, sugiro que a Operação Nariz Vermelho se candidate às legislativas. Porque não? Eu sou fã, mas não teriam o meu voto. Não queria que um Dr. Palhaço fosse eurodeputado. (Deixo aqui espaço para rematarem o texto com os vossos trocadilhos favoritos, envolvendo políticos e palhaços, e para voltarem a dizer que é por isso que votam PAN. Por isso e porque adoram gatos.)
*Humorista