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Mais de metade dos espectadores com a televisão ligada na hora do debate entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos ficaram para o ver, na antecipação do processo eleitoral que conduzirá à escolha do próximo primeiro-ministro. Quase a bater na fasquia do ano passado, foram 2,71 milhões de portugueses a manifestar interesse num produto de comunicação que em muito excede o debate de ideias e a apresentação de propostas. A lógica é a de um frente a frente, a de uma oposição sem construção, sem apresentação de propostas, apenas e só, quando muito, um debate de “performances” para português ver. As notas finais dos comentadores alinham o ramalhete final, tantas vezes perturbador pelo engajamento, como se a prova fosse de natureza artística e não de essência política.O desempenho em detrimento da substância. Talvez seja essa a razão que leva tantas pessoas a seguirem os debates como uma trama ou intriga com avaliação final pronta a servir. Um sucedâneo produto de apostas em jogo, um episódio de novela em dimensão enredo. A ideia que começa a ganhar forma é a de que os debates são apenas uma parte importante do “freak show” de campanha, que nada muda, nada altera, nada acrescenta. Nem ao discernimento nem ao voto. Se as boas prestações em debate ganhassem votos, teríamos certamente um Parlamento radicalmente distinto.O princípio da desconfiança tem sido a única certeza que atravessa a pré-campanha, por mais que o jornalismo tente (e bem) cumprir a sua função. A crise instalada na política, onde todos se acusam da maior poluição, não permite que a corrupção e os conflitos de interesse saiam do radar dos debates, ocupando-os como se de um jornal do crime se tratasse. Agora, mais que os esconderijos ou subterfúgios da Spinumviva, parece ser a fuga de informação sobre a mesma a matéria eleita para não falar dos factos. Vemos, finalmente, políticos preocupados com a fuga de informação particular como se um segredo de Estado se tratasse. Isto, enquanto Marcelo Rebelo de Sousa deixa o pátio político, sem dizer uma palavra, talvez também ele já cansado de tanta demagogia para que tudo fique igual, como canta Sérgio Godinho no “Elixir da eterna juventude”. Já cansa, é desleal.