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Não se governa um país com a facilidade com que se fazem proclamações revolucionárias na rua. Menos se se diz aos credores o que podem e devem fazer com o seu próprio dinheiro, impondo unilateralmente condições e achando-se que numa economia de mercado a credibilidade não importa nada.
Alexis Tsipras ainda não o percebeu. Mas os gregos, infelizmente, começam a senti-lo, no custo de oportunidade pela crença de que o país conseguiria melhor, deixando-se governar com velhas ideias de 1917. Em campanha, foi tudo ou nada. A dívida seria renegociada. E Angela Merkel, chanceler alemã retratada como a encarnação de todos os males e o rosto da austeridade, seriam pedidas indemnizações de guerra.
Contados os votos, o lirismo foi empossado Governo. Alexis Tsipras garantiu que o "sol voltou à Grécia" e que "a Grécia não mais se curvaria à vontade dos credores". Já a dívida, essa maçada que onera quem pede dinheiro emprestado, teria de ser paga com obrigações indexadas ao crescimento nominal da Grécia, que é como quem diz, quando calhasse ser.
Cinco meses bastaram para o Syriza mostrar aquilo de que é capaz. Garantiu a desconfiança dos mercados, uma gigantesca fuga de capitais e a recessão. Mas claro, a culpa só poderia ser dos outros.
Inventado um referendo absurdo, para decidir a resposta a uma proposta negocial dos credores, que nem sequer é definitiva, Alexis Tsipras tenta transferir para todo o povo grego as responsabilidades do desastre que só pode ser imputado ao Syriza. E na necessidade de ficcionar um inimigo externo, ficou a saber-se que afinal quem manda na Europa já não é Angela Merkel, mas sim Passos Coelho e Paulo Portas. É que há dias, o primeiro-ministro grego acusou o Governo português de conspirar com a Oposição grega para provocar a queda do governo de Atenas.
Independentemente da lisonja para Portugal - que de país em dificuldades passa a ser interpretado pela extrema-esquerda grega como liderante das grandes decisões europeias - valha-nos a lucidez da resposta de Antonis Samaras, acusando Alexis Tsipras de "criar inimigos imaginários, para justificar as suas próprias mentiras e impasses".
O mesmo se diga acerca da conclusão do presidente da Nova Democracia, sobre o que estará verdadeiramente em jogo no próximo domingo. O referendo não tratará de dizer sim ou não à austeridade. Decidirá sim ou não ao euro, arrastando eventualmente a Grécia para fora da Europa, sob pretexto de uma paródia através da qual um Governo tenta esconder o seu fracasso, conduzindo o país à bancarrota e ao suicídio político.
Resta a esperança de que vença o sim.
DEPUTADO EUROPEU