Odirector-geral da Autoeuropa garantiu ontem que a saída da empresa de Portugal está "fora de questão" (sic). "De momento, na sede ninguém está a discutir a saída da Autoeuropa de Portugal", jurou Andreas Hinrichs.
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No entanto, o responsável fez saber que esse facto não elimina um outro: despedimentos e redução de turnos ao longo do segundo semestre deste ano não estão postos de lado. Deve o país suspirar de alívio? Só durante um pequeno instante, porque, apesar das boas intenções, o problema central da Autoeuropa continua lá: como se compatibilizam, em tempos se severa crise, os interesses da empresa com os interesses dos trabalhadores?
Os números são arrasadotes: a Autoeuropa dá trabalho directo a cerca de três mil pessoas e indirecto a outras dez mil. Não é difícil imaginar o drama social que se abateria sobre a região de Palmela, caso a empresa decide-se sair do nosso país. Além disso, a Autoeuropa vale 1% do nosso Produto Interno Bruto (riqueza produzida pelo país) e é, logo a seguir à Galp, a segunda maior exportadora nacional (10%). Se as negociações falharem, o rombo nas nossas contas seria tremendo. O outro lado da moeda é igualmente preocupante. É que, para o bolo da Volkswagen, a Autoeuropa conta apenas 2%. Isto é: para os patrões da multinacional, a Autoeuropa não é propriamente um grande problema. Mais: com tanto posto de trabalho, directo e indirecto, para "oferecer", a casa-mãe não terá com certeza grandes dificuldades em arranjar quem, a troco de apetecíveis benefícios (fiscais e outros), queira ter uma Autoeuropa na sua região. A Baixa Saxónia, por exemplo, está à espreita...
Acresce que, para Portugal, a saída da Autoeuropa somar-se-ia a uma série de outros problemas (Opel da Azambuja, PSA de Mangualde, paragens na Toyota) que, por junto, colocam em sério risco a sobrevivência do sector automóvel em Portugal.
É por isso compreensível que o Governo tenha a tentação de, se for caso disso, lançar mais dinheiro sobre este problema, de modo a evitar que a longa lista de desempregados (quase meio milhão) engrosse ainda mais. É compreensível, mas perigoso. Ao abrir os cordões à bolsa, o Governo corre o risco de ficar nas mãos da empresa e de não ter mais margem de manobra para recuar quando for novamente pressionado pelas circunstâncias. A história recente mostra que essa não é a melhor estratégia.
Belmiro de Azevedo disse o necessário, ainda que com desnecessária crueza: os trabalhadores têm que concertar esforços com a empresa (e já deram boas provas disso no passado) para ultrapassar este impasse. E devem fazê-lo sem emprenhar pelos ouvidos com a conversa oportunista do costume, aquela que manda chumbar tudo o que possa beliscar os sacrossantos "direitos adquiridos". Mesmo que eles choquem de frente com a realidade.