Em Abril de 1990, no congresso do PSD que decorreu no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, logo a abrir, Cavaco Silva anunciou que o PSD não apoiaria nenhum candidato presidencial se Mário Soares se recandidatasse.
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Cavaco só estava interessado em repetir a maioria absoluta, em Outubro no ano seguinte, pelo que desvalorizou as presidenciais de Janeiro de 1991. António Barreto, numa entrevista ao DN de sábado passado, viu perfeitamente a coisa: "Soares vinga-se nesse segundo mandato, porque não perdoa a Cavaco ter-lhe dado esses votos e de ter sido cúmplice de um Governo da direita". Marcelo também acabará a "vingar-se" dos votos de Costa?
Na apresentação da recandidatura, a 3 de Outubro de 1990, Soares fez questão, de facto, de separar as águas. A meio do discurso, declarou-se socialista, republicano, laico e liberal, embora apenas os três primeiros atributos tivessem ficado registados para a história. O presidente, aliás, nunca se cansava de os repetir, nomeadamente em entrevistas, não fosse alguém confundi-lo com o "cavaquismo" governamental. Marcelo declarar-se-á de "direita, republicano e católico"?
Mas, em Janeiro de 1991, a recandidatura "unir os portugueses, servir Portugal" venceria vigorosamente com a garbosa percentagem de 70,35 e o apoio do "bloco central" partidário. Marcelo quer ir além deste Bojador, por terra, mar e ar e o mais que houver à mão.
Para o final do mandato, desconfiado das reais possibilidades de António Guterres, líder do PS, ser bem-sucedido contra o "império cavaquista dos últimos dias", promoveu um "congresso" alternativo onde compareceram as benevolentes e os cortesãos que Belém cultivara durante dez anos como uma estufa de miosótis. Cavaco já estava noutra. E Soares lá acabou o mandato nas amenidades de um Governo socialista, e com um sucessor socialista. Já Sampaio, a seguir, herdaria Guterres por uma legislatura inteira e mais um bocadinho da seguinte, com a sua própria recandidatura pacífica pelo meio. Oficialmente, só o PS o apoiou e a vitória de Janeiro de 2001 foi bem mais pedestre que a mítica de Soares: 55,76%.
Sampaio também era socialista, republicano e laico, embora nunca tivesse sentido necessidade de reafirmações retóricas, logo ele que era tão dado a elas. Apenas a meio do segundo mandato, em pleno "interregno" governativo da Direita em coligação, Sampaio mandou perguntar ao PS se estava de novo pronto. Sócrates disse que sim. (continua)
Jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia