Andará na casa dos 200 milhões de euros o investimento associado às Agendas Mobilizadoras da área da saúde que foram objeto de aprovação no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR). Trata-se de iniciativas estruturantes cujo desfecho, que todos desejamos bem-sucedido, vai ter implicações marcantes e positivas no perfil das nossas indústrias da saúde, com novos produtos e serviços, estado da arte, a verem a luz do dia no mercado nacional e, sobretudo, no mercado global.
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Espera-se, e este é, ainda que formulado de formas diversas, o grande objetivo deste programa de recuperação de uma Europa abalada por uma pandemia impiedosa, um forte abanão na oferta nacional neste domínio, materializado num salto qualitativo e quantitativo no seu portefólio, só possível com operações de grande dimensão. Com efeito, e de uma forma geral, na inovação em saúde, os avanços para acontecerem necessitam de impulsos (leia-se, investimentos) de grande fôlego. É possível, embora improvável, que também possam ser realidade com pequenos passos, mas demorarão uma eternidade e a oportunidade não espera.
Estas Agendas Mobilizadoras juntam empresas - que partilham com os fundos públicos este esforço de investimento num montante global que será da ordem dos 60 milhões de euros e têm um papel liderante em todo o processo - e o que de melhor temos do lado das universidades, dos institutos de investigação e dos hospitais. Trata-se de uma operação verdadeiramente sem precedentes e na qual é legítimo depositar grandes esperanças.
Há, de facto, condições para concretizar. Para levar a investigação e o conhecimento ao mercado com novos e inovadores produtos e serviços. Mais, é legitimo ambicionar que desta forma se coloque a bola de neve a rolar, pela ativação de um processo que se autoalimentará pelo reinvestimento de boa parte dos resultados, num ciclo virtuoso da inovação.
Acresce que, ao mesmo tempo, do lado público do PRR, estão alocados cerca de 300 milhões de euros para a modernização do SNS (Serviço Nacional de Saúde), onde estão priorizados, tanto quanto se conhece, os investimentos no domínio da aceleração e aprofundamento da digitalização e da utilização dos dados como elementos estruturantes e centrais da sua urgente e unanimemente reclamada modernização.
É igualmente uma operação sem precedentes que poderá, se bem executada, fazer a diferença.
Mas a grande diferença, a oportunidade que está na frente dos nossos olhos, só acontecerá verdadeiramente e com impacto na transformação digital da nossa saúde, se formos coletivamente capazes de articular os dois lados, todos os lados. Será mais uma oportunidade perdida, se não formos capazes de o fazer.
*Diretor-executivo do Health Cluster Portugal