Em semana de grandes discussões sobre a utilização da golden share do Estado na PT, o PS realizou as suas jornadas parlamentares. Estas são sempre um momento de reflexão e apresentação de propostas concretas por parte dos grupos parlamentares. As expectativas estavam ainda mais aguçadas quando se poderia conhecer o pensamento estratégico de personalidades tão relevantes como Mário Soares, António Vitorino, Santos Silva, Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso ou António Costa.
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Nada começou pelo melhor, pois ainda antes do início já se noticiava que existiriam contactos por parte de Ferro Rodrigues para encontrar um sucessor a José Sócrates. Após a corajosa assunção de vontade feita por um político preparado como António José Seguro, aparentemente começam a surgir movimentos que demonstram fatalidade e desânimo por parte das hostes socialistas. Mas ainda mais graves são as afirmações feitas pelas personalidades convidadas. António Costa afirmou que o PS não pode ter vergonha da vitória eleitoral; Mário Soares disse que falta debate interno num PS que vive a dificuldade de um governo minoritário numa altura de crise; e, por fim, Paulo Pedroso e Santos Silva discutiram a possibilidade de o PS ter entendimentos à Esquerda, assumindo o último orador, com a elegância que lhe é reconhecida, que a esquerda do PS corresponde ao andor da Direita portuguesa.
Tudo isto demonstra que o PS vive num labirinto estratégico. Se perante a falta crónica de parceiro à esquerda, se juntar o apoio envergonhado a Manuel Alegre, nota-se que o PS depende do colo magnânimo do PSD - que nunca recusa uma boa fotografia - e lá aparece a salvar os planos de austeridade, os aumentos de impostos ou as SCUT. Eu não sei se o PS precisa de parceiro à Esquerda, se tem de debater ou assumir com orgulho a maioria relativa. O que sei é que não aparece um rumo de Governo. É por isso que estranho que nestas jornadas ninguém tenha perguntado - afinal, para onde nos levas José?
