Corpo do artigo
A ideia de que o PS poderia ter ganho as eleições esmagando a aliança da Direita não resiste à geografia da crise do socialismo europeu, claramente expressa no mapa de resultados da União Europeia. Afinal, só terá existido uma vitória de projeção eleitoral e significado político verdadeiramente superior à dos socialistas portugueses. E essa, a dos italianos, aconteceu por, estando no poder, terem sabido usar a crise e a austeridade para empreender uma reforma do Estado mais amiga do cidadão do que propriamente alinhada com os padrões clássicos do modelo do socialismo europeu.
Esta dimensão europeia da crise eleitoral do socialismo, que surge na sequência da falência financeira do próprio modelo social europeu, não parece suscetível de ser superada à custa de listas de divergências políticas que possam ser alinhadas nos planos nacionais, em função das várias direitas, nacionalismos e extremismos. Depois dessa espécie de clandestinidade a que se votaram os federalistas de todos os matizes durante a campanha, talvez os resultados eleitorais reconciliem os socialistas com o pensamento eurofederal como chave para desbloquear a equação financeira em que a Direita se baseia para reduzir o modelo social europeu em razão da sua sustentabilidade e, ainda assim, incerta à luz de problemas tão profundos e graves como a taxa de natalidade ou a concorrência desleal a que a União Europeia se sujeita no plano do comércio mundial, por ação de países e blocos onde os direitos sociais não são suportados na mesma medida solidária quanto a consagrada pelo nosso modelo europeu.
Não creio, pois, que a pugna política instalada no PS português em torno da liderança seja apenas a de saber qual dos dois, Seguro ou Costa, terá melhores condições eleitorais para chegar a primeiro-ministro. Mais importante seria conhecermos em detalhe como é que cada um deles pensa desencalhar da crise o socialismo europeu para nos poder garantir com um superior grau de certeza que dispõe da chave-mestra para também desencalhar Portugal.
Ou será que temos dúvidas de que o que nos está a acontecer é em grande parte consequência das políticas da Comissão Europeia? E tanto das ainda em vigor, de austeridade, quanto das revogadas, de expansão, no essencial fundadas em arranjos pouco ou nada democráticos e sobretudo egoístas entre os chefes de Estado e de Governo mais poderosos do Conselho Europeu? E que boa parte do que nos está a acontecer também é consequência inevitável do seguidismo acrítico em relação às políticas da Comissão Europeia de que muitos governos socialistas foram protagonistas indiferenciados da Direita por essa Europa fora?
Estas são as perguntas a que o socialismo europeu deve responder para voltar a ser alternativa distintamente reconhecível. Para nós, portugueses, também deveria ser esta a dimensão essencial da disputa entre Seguro e Costa.