<p>O Partido Socialista vive dias difíceis. José Sócrates, que hoje vem ao Porto, começou ontem a pôr ordem no problema da candidatura de Elisa Ferreira. </p>
Corpo do artigo
No concelho do Porto, o PS vê, muitas vezes, interesses menores sobreporem-se aos interesses do partido, e estava a crescer um problema que, a não ser resolvido, o poderia afectar gravemente. Sócrates afasta a concelhia da candidatura de Elisa e põe-na nas mãos da distrital.
Anteontem, recorde-se, o líder da concelhia PS insistia mais uma vez com Elisa Ferreira para que desistisse da candidatura europeia. Elisa Ferreira, é preciso dizê-lo, não cometeu nenhuma ilegalidade ao aceitar a sua dupla candidatura e em ambas houve o acordo de Sócrates. Elisa cometeu um erro, já o disse. Um erro grave: sendo candidata ao Porto, conhecendo as gentes do Porto, não deveria ter outra candidatura, que é vista como uma salvaguarda de futuro para o caso de não bater Rui Rio. Quem conhece o Porto não percebe como Elisa Ferreira e o PS cometeram esse erro.
Mas, em nome da verdade, é preciso dizer também que há outras coisas a envenenar esta candidatura. O PS, que ao longo de quatro anos pouco fez para combater Rui Rio na Câmara, não aprecia a candidatura de Elisa Ferreira precisamente porque a candidata, conhecendo de que massa é feita o partido na cidade, negociou com Sócrates a possibilidade de organizar as listas com independentes que lhe garantem lealdade e qualidade de trabalho superior. Acresce que o mau resultado eleitoral dos socialistas nas Europeias deixou de fora o histórico portuense Manuel dos Santos, que por antiguidade fora alcandorado na última legislatura ao posto de vice-presidente do PPE e que fica, por agora, entregue a um inesperado desemprego político, que só a desistência de Elisa (imediatamente acima dele na lista) pode evitar. São estes os interesses em jogo. Houvesse por parte dos socialistas portuenses algum desacordo de fundo com a dupla candidatura de Elisa Ferreira e já ele teria sido posto em cima da mesa há muito tempo. Surgiu agora, oportunistamente, porque o PSD lhe fez esse cerco e porque Sócrates, num recuo mimético às opções do PSD, resolveu alterar as regras, não quanto ao Parlamento Europeu, mas quanto às duplas candidaturas Legislativas-Autárquicas.
Sócrates, que de um dia para o outro estabeleceu esta nova regra, precisava de encontrar uma fórmula que apoiasse e protegesse Elisa Ferreira no Porto, sob pena de o partido se entregar a um descrédito bem maior do que o do erro de patrocinar uma dupla candidatura. Aos dirigentes da concelhia resta, como é óbvio, a demissão.
P.S.: Pelas promessas que a Oposição vai fazendo de reabrir o processo, pode prever-se que vai acontecer com as investigações sobre a supervisão do Banco de Portugal ao BPN o mesmo que durante anos sucedeu com o acidente de Camarate: consoante a maioria parlamentar, assim a decisão ia mudando entre crime e acidente. Em Portugal, os políticos dão-se melhor com a lei do mais forte do que com o respeito pela verdade.