<p>O PSD é rei nos congressos: em 36 anos de democracia, os sociais-democratas juntaram-se 32 vezes (contra 16 do PS) para discutir o partido e o país. É grave o facto? Não. Mas é emblemático: um partido que precisa de catarses quase anuais é um partido em que as palavras unidade, coerência e estratégia são meras figuras de estilo. </p>
Corpo do artigo
Filipe Menezes disse, em Mafra, que o PSD está como está (também) por culpa própria. Tradução: quem queima sete líderes num curto espaço de tempo e percorre o país em magnas reuniões não pode, a seguir, reclamar a estabilidade como um valor fiável. Balsemão referiu-o há uns tempos: se insistir neste caminho, o PSD arrisca o "suicídio colectivo".
A forma como o congresso encerrou, com a aprovação da inominável proposta de Santana Lopes segundo a qual os militantes podem ser expulsos caso se dêem ao luxo de criticar o líder, nos 60 dias que antecedem as eleições no partido, não é, por isso, um mero pormenor. Manuela Ferreira Leite, por exemplo, concorda com a ideia, logo ela que nos dois anos de consulado bateu e voltou a bater na tecla da asfixia democrática. Ou seja: não foi a distracção que levou os congressistas a votarem favoravelmente na paranóia de Santana. Há no partido, como se vê, gente de peso que vê eficácia na medida santanista.
Isto, que por si só já é trágico, aconteceu num congresso cuja conclusão é simples: Pedro Passos Coelho ou Paulo Rangel, um deles assumirá dentro de 15 dias a liderança do principal partido da Oposição. Mas nenhum deles, pelo que se viu e pelo que se antevê, parece estar em condições de contornar o caos fratricida em que o PSD gosta de viver.
Ora, se há coisa que a mais elementar estratégia desaconselha, tendo em vista o estado do país - e, já agora, o seu futuro -, é justamente pegar numa metralhadora e começar a disparar sobre o Governo. Passos Coelho, por exemplo, ameaça não dar o visto "laranja" ao famigerado Programa de Estabilidade e Crescimento, um sinal claro de que pondera, caso vença as directas, precipitar uma crise que desemboque em eleições antecipadas. O PS e José Sócrates agradecerão comovidamente tamanho erro de perspectiva. Ao invés, o presidente da República detestará o equívoco, com toda a certeza. Não apenas porque uma crise política é o que menos lhe interessa, mas sobretudo porque já percebeu que, se alguma coisa faz sentido, é desgastar politicamente o Governo, com arte e saber, e deixar que a economia e as finanças façam o resto.
No fundo, no fundo, o PSD gosta mesmo é de ver-se ao espelho em sucessivos congressos. Sucede que a imagem devolvida pelo vidro é cada vez mais desfocada. Um dia destes, o partido é mesmo engolido pelo espelho, como acontece à madrasta da Branca de Neve, na célebre história dos irmãos Grimm.