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O PSD elegeu um novo líder numa enorme mobilização que movimentou dezenas de milhar de militantes. Como militante activo deste grande partido democrático fiquei satisfeito e esperançado. Satisfeito, porque o apoiei com convicção e acredito na sua juventude, no seu bom senso e nas suas intenções.
Satisfeito, porque fui o único ex-líder a ter uma opção pública clara, procurando fazer pedagogia a favor da normalidade de ter opinião, em detrimento da cobardia da omissão, que, à posteriori, só costuma servir para justificar todo o tipo de comportamentos.
Satisfeito porque este eleição foi, no essencial, uma reedição da que venci em 2007. A base social de apoio de Passos Coelho mimetizava muito a que me deu a vitória, todavia, encorpada com o apoio de alguns quadros urbanos conhecidos e credíveis, que lhe darão outro lastro para resistir às primeiras adversidades.
Satisfeito ainda, porque, independentemente da unidade activa que ele deve procurar concretizar, ficou provada uma das teses que conduziu à minha ascensão e queda da liderança do PSD. As pseudo elites sobreviventes do final do Cavaquismo não têm mais, por si só, capacidade, credibilidade e valor para voltar à liderança do maior partido da oposição (ex: em Gaia, onde tive o privilégio de liderar uma lista de delegado pró Passos Coelho, o resultado foi de 16 -1, ou seja, acima da fasquia dos 90%; em Cascais, o presidente de Câmara e conselheiro de Estado António Capucho, mandatário nacional de Paulo Rangel, perdeu a eleição em que encabeçava idêntica lista de delegados!).
Uma palavra sobre os candidatos derrotados.
Aguiar Branco sai, paradoxalmente, reforçado. Apesar dos seus 3% de votos! Aguiar Branco valia muito mais do que isto. Contudo, a entrada tardia na compita tornou-o refém de uma fatal bipolarização. Houve milhares de militantes que, preferindo-o a ele, não lhe deram o seu voto porque temiam estar a ajudar a eleger o candidato que menos desejavam. Aguiar Branco cimentou uma posição de activo importante do futuro do PSD.
Paulo Rangel, cuja generosidade e valor intelectual e político são inquestionáveis, evidenciou fragilidades inevitáveis. Falta de experiência política e algum desfasamento com a idiossincrasia e memória histórica do partido. A sua presença em Bruxelas deve ser valorizada pela próxima Direcção, mas Paulo Rangel será provavelmente o primeiro candidato que, obtendo o segundo lugar numa disputa eleitoral, não mais poderá aspirar a ser líder. Um pouco ao modo de Jaime Gama no PS.
Porque há um grande grau de probabilidade do novo presidente ter sucesso e, porque, Rangel, ao contrário de Barroso, Santana, Mendes ou eu próprio - todos derrotados na primeira tentativa, não ter sido um candidato com peso específico pessoal, mas antes mandatário da orfandade e habitual calculismo do núcleo duro que rodeava Ferreira Leite.
Finalmente a esperança. Passos Coelho mostra estar consciente de que, ao mesmo tempo que tem que falar para o país, vai ter que reformar o partido. A sua organização, os seus estatutos, a sua necessária abertura ao exterior. Mostrou igualmente a sensatez de ser contido logo no discurso de vitória. Contido na indefinição do ímpeto estratégico, inteligentemente balanceado entre a pressa de tomar o poder e a calma de esperar com sentido de responsabilidade. Contido na afirmação ideológica e programática, que deverá definir em simultâneo com a presentação de uma equipa muito renovada e fresca.
Agora, Sócrates que se cuide. O PSD está de volta. A democracia e Portugal agradecem.