<p>1. O novo líder do PSD será hoje conhecido. Se não houver surpresas de maior, o "brinde" sairá a Pedro Passos Coelho. Sê-lo-á com algum mérito, na medida em que, goste-se ou não da figura, foi o único dos três candidatos que verdadeiramente se preparou para o cargo. Paulo Rangel traiu um companheiro de partido para tentar chegar ao topo do PSD - e isso diz bastante sobre o seu carácter. De resto, ao longo das últimas semanas, mostrou à saciedade como foi prematura a sua decisão. Aguiar-Branco evidenciou o que era há muito claro: falta-lhe o suplemento de alma de que um partido com as características do PSD precisa como de pão para a boca. </p>
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A eleição de um novo líder social-democrata é sempre relevante. É-o ainda mais nas actuais circunstâncias. Portugal precisa que o principal partido da Oposição se recomponha de vez, precisa de um PSD que seja uma credível alternativa ao Governo em exercício. A verdade é que, trucidando líderes uns atrás dos outros, o PSD não tem sido nada disto nos últimos anos. Com Marques Mendes ganhou credibilidade mas perdeu gás. Com Luís Filipe Menezes ganhou gás mas dividiu-se como nunca. Com Ferreira Leite foi errático (todos nos lembramos da suicidária estratégia de ter uma líder calada e recatada), inconsequente, incipiente, desmotivador, pouco atractivo. Numa palavra, foi (quase) tudo o que não deveria ter sido.
Em bom rigor, o "novo" PSD precisa de ser exactamente o contrário do que foi nos dois últimos anos. Precisa de gente nova que ponha no devido sítio os estrategos de pacotilha e os técnicos que detestam a realidade, sobretudo quando esta atrapalha os brilhantes raciocínios que brotam das suas cabeças. A inocuidade e a mediocridade satisfeita são os principais alvos a abater dentro do partido. Quer dizer, se o novo líder não estiver disposto a romper com as lógicas de poder instaladas no PSD, terá o mesmo futuro que os antecessores: fará rapidamente a mala para regressar a casa.
O desafio é grande. Como são grandes os desafios que o país tem pela frente. Daí a relevância de podermos contar com um PSD forte, sereno e responsável. O vencedor das directas não pode convencer-se de que basta deixar que o tempo e as notícias "queimem" José Sócrates para chegar a primeiro-ministro. O vencedor das directas deve, isso sim, convencer-se de que tem que provar ser melhor do que José Sócrates para merecer a confiança dos seus correligionários, primeiro, e dos portugueses, depois.
2. O líder da Federação Distrital do PS/Porto, Renato Sampaio, esteve há dias na Trofa e aproveitou para sovar a presidente da autarquia. Chamou-lhe "caudilho de saias" (se esquecermos que um homem não deve bater numa mulher, nem que a "arma" seja uma flor, convenhamos que é um belo "soundbyte"). Pequeno pormenor: a autarca da Trofa, Joana Lima, é socialista. Socialista e "mandarete" de José Luís Carneiro, o presidente da Câmara de Baião que decidiu concorrer contra Renato Sampaio.
Há muito que não se via festa tão rija no PS-Porto… O timing é perfeito. Numa altura em que se prepara para lançar um livro intitulado "Oposição a Norte" (leitura obrigatória para quem deseje conhecer um pouquinho do pensamento do líder da Distrital, uma vez que, ao longo dos anos, ele fez questão de não o partilhar connosco), Sampaio mostra toda a sua raça, ao maltratar uma colega de partido. A propósito, Carneiro também dará à estampa um livro: "Horizontes na ordem interna e no sistema internacional". O título tem ar intelectual. Só não se percebe por que carga d'água deseja Carneiro partilhar connosco, enquanto candidato à Distrital do Porto, o seu pensamento sobre o "sistema internacional"...
O que intriga no PS/Porto é a inigualável tendência para a balbúrdia. Os dados das próximas eleições autárquicas ainda não estão lançados, mas há algumas realidades incontornáveis, como as saídas de Rui Rio da Câmara do Porto e de Filipe Menezes da Câmara de Gaia. Noutro plano, a região Norte continua a ser fustigada pelo desemprego, por falências e tragédias afins. Estes temas - e tantos outros - deviam constar da agenda diária de uma estrutura com a importância do PS/Porto. Não constam. Enfim, são gostos - e os gostos, já se sabe, não se discutem.