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Face a uma nova vaga de incêndios de verão, é difícil resistir à vontade de repetir as críticas dos anos anteriores. Mesmo que muito tenha mudado, continua um longo caminho por percorrer e muito por fazer.
Também não devemos esperar que todas as mudanças sejam implementadas de um dia para o outro. Basta lembrar a questão da compra de meios aéreos próprios para o combate aos incêndios. Há um par de anos discutimos se o devíamos fazer, porque não o fazer e se as hesitações nessa decisão não trariam um preço.
Hoje discutimos se definimos bem os contratos e o que mais deixamos por fazer. Continuamos a discutir se os aviões da Força Aérea devem também combater fogos e ninguém se lembra que há duas décadas a discussão era precisamente ao contrário e se retirou essa capacidade das unidades militares em favor de uma capacidade especializada e tecnicamente mais direcionada. Mas continuamos a acreditar que a solução chega por esses meios aéreos.
Há uns anos, compramos helicópteros pesados que deixamos parar por incapacidade de fazer a manutenção. Oferecemo-los à Ucrânia para voarem na guerra e voltamos a alugar aparelhos exatamente iguais...
Mas há muito mais a fazer e esse muito não passa, seguramente, pela simples dotação de meios técnicos que está quase sempre no centro da discussão, como se os fogos se combatessem com água lançada do ar e mangueiras nas mãos de bem-intencionados voluntários.
Após os incêndios de Pedrógão, parte desse debate necessário foi feito. Sobretudo, apurando se as técnicas de combate a fogos eram as mais adequadas e o que se poderia melhorar. Percebemos, por exemplo, que um pequeno grupo de intervenção colocado no local certo com o apoio de um helicóptero pode fazer muito mais do que um exército de carros de bombeiros a lançar água para o mato.
Mas, na verdade, aprendemos pouco e continuamos a cometer os mesmos erros. Voltamos a discutir se os helicópteros carregam a água necessária ou se contratamos Canadairs em número suficiente e se os bombeiros voluntários têm bons carros todo-o-terreno. O que quase não discutimos é se a filosofia (os métodos e toda a ideia de base que orienta o trabalho dos bombeiros) é a mais correta para enfrentar um problema que, por muito que desejemos mudar, irá sempre existir.