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Foi em clima de grande consenso e sobretudo de grande esperança e expectativa que foi acolhido, nos finais do ano passado, o lançamento da Direção Executiva do SNS.
Com mais ou menos dúvidas de uns, e alguma descrença implícita de outros, não me lembro, nos tempos mais recentes, de ter assistido a um nível tão elevado de entusiasmo na tribo da saúde, a que não terá sido indiferente a escolha, que julgo muito acertada, do professor Fernando Araújo para liderar esta estrutura que se espera possa trazer cérebro e gestão ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A medida afigurava-se, e não haverá ainda razões para deixar de ser assim, como a adequada resposta ao plano inclinado de degradação do desempenho, pelo menos em certas áreas, que o SNS vinha registando.
Nomeados os restantes elementos da Direção Executiva, de imediato as mangas foram arregaçadas e começou a soprar um vento de mudança. Sentiu-se direção, planeamento e ação. As coisas começaram a acontecer, algumas medidas surpreenderam pelo arrojo, as boas expectativas eram fundadas.
No entanto, e como tem vindo, em crescendo, a preocupar todo o setor e, de uma forma geral, todo país, com cada vez maior verbalização por parte daqueles cuja palavra é mais ouvida, como o presidente da República ou o ex-ministro Adalberto Campos Fernandes, tardam em sair os estatutos desta nova entidade, com as consequentes dificuldades na sua operacionalização.
Será mais uma consequência da nossa - cada vez mais difícil de aceitar e tolerar - ineficácia coletiva para planear e fazer com que as coisas aconteçam de forma concertada e no tempo certo, o que por si já é muito mau, ou é algo de mais dramático e trágico, e são as forças do imobilismo e da manutenção do status quo, que se instalou e que nos está a consumir por dentro, a atuarem?
Qualquer que seja a resposta, será sempre má, mas as consequências da realidade que lhe está subjacente ainda é pior.
Tenho sempre muita dificuldade em alinhar no discurso da desgraça e de praticar o desporto nacional da autoflagelação, mas não posso deixar de me questionar sobre a enorme quantidade de energia que todos os dias desperdiçamos para contornar dificuldades como esta, que só depende de nós evitar.
Quanto está a custar, em termos do desempenho do SNS, este atrasar na ação da Direção Executiva?
Porque é que continuamos a aceitar passivamente este estado de coisas?
Não é uma fatalidade, há cura, e esta passa por definitivamente introduzir a boa gestão, o planeamento e o rigor em todos os processos, seja numa empresa, seja numa estrutura pública, seja no governo do país. Tenho esperança de que a nova geração que está agora a chegar aos lugares de decisão, e que todos reconhecemos como a mais qualificada de sempre, possa liderar o necessário sobressalto cívico que rompa com esta desgraça.