A gravidade da situação actual aconselha que as diferentes opiniões sejam adequadamente fundamentadas. Não é isso que tem vindo a acontecer.
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Não é isso que está a dar! Pelo contrário, a inveja, a demagogia e a pura e simples incompetência subjazem a muitas intervenções. As remunerações dos gestores públicos e os lucros das empresas são dois dos temas em que tal tem ficado bem patente.
Já todos ouvimos falar dos lucros escandalosos da banca, da EDP, da Galp e de uma série de outras grandes empresas. O simples bom senso deveria levar-nos a concluir que mau seria se empresas grandes não tivessem grandes lucros. Se eu investir 1 000 euros a uma taxa de 10 %, ao fim do ano tenho 1 100 euros. Se aplicar 10 000, tenho 11 000. Novecentos euros mais. Rigorosamente o mesmo, em termos de taxa de retorno. Deste ponto de vista, ao contrário do que se diz, muitas das grandes empresas não são particularmente rentáveis. Se nos preocupasse a capacidade do país competir, cuidaríamos de tentar saber se estão a ser bem geridas, como comparam com os seus pares internacionais, se conseguem os seus resultados por não terem concorrência e por aí adiante. Com análises concretas e não com palpites mais ou menos ideológicos. Portugal precisa de empresas competentes, sejam grandes ou PME.
Também as empresas públicas devem ser bem geridas para o que devem ser capazes de atrair gestores qualificados, recrutados com base na sua competência e profissionalismo e não por critérios de cor política. O seu desempenho deve ser avaliado de forma objectiva e premiado, se tal se justificar. A gestão das empresas públicas não deve ser o parente pobre, nem nas remunerações nem na qualificação, das empresas privadas. A questão não é, por isso, a remuneração que os gestores públicos auferem mas os critérios com que foram nomeados e a forma como a remuneração reflecte o melhor ou pior comportamento da empresa. A actual deriva, visando reduzir e limitar os vencimentos dos gestores das empresas públicas, corre o risco de as expurgar dos profissionais que, nos últimos anos, aceitaram integrar os órgãos sociais de algumas das maiores empresas estatais e que, mais uma vez ao contrário da vox populi, contribuíram para uma melhoria substancial na sua gestão e, sobretudo, na transparência da informação disponibilizada. É certo que, para além dessas, há toda uma parafernália de empresas, fundações e institutos nas quais, aí sim, se acoitam os boys and girls deste mundo. Nessas, e na não clarificação das orientações políticas para alguns dos sectores, residem os problemas. Meter tudo no mesmo saco é um erro. A política pode ser feita por vocação. A gestão é uma profissão. Impor à segunda os critérios da primeira fará retornar os comissários políticos. Depois queixem-se!
P.S. A crise teve, para já, um efeito positivo: afinal a Portela ainda vai durar até 2021. Pelo menos. Pergunto-me: será que as Forças Armadas, consideradas no seu conjunto e não como somatório de corporações, precisarão mesmo de Alverca e Montijo? Se um deles desse para alojar as low-cost... Na reforma do Estado não pode haver intocáveis.