Deixei a casa de meus pais em 1974, tinha eu 17 anos e corpinho para matar ou morrer numa guerra que o país já não me pediu que combatesse. As minhas mãos podiam tocar o céu, tudo era possível e todos os dias eram futuro, esperança e abril.
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Hoje, mais de metade dos jovens portugueses vive com a família até perto dos 30 anos, enquanto os nórdicos abandonam o lar paterno com menos de 20, revelam as últimas estatísticas do Eurostat.
Europeus mais serôdios que nós no abandono da casa dos pais só mesmo croatas, eslovenos, malteses, italianos e gregos, gente do Sul - um fenómeno que acentua ainda mais as nossas diferenças em relação aos povos do Norte, dado o efeito dominó sobre outros indicadores de que depende a prosperidade de um país.
E por que é que os suecos deixam a casa dos pais antes dos 20 e os portugueses quase nos 30? A resposta é simples: porque podem! E podem porque a situação económica o permite. E porque há políticas de emprego, de habitação, de crédito e proteção social que os desafiam a empreender o voo, sabendo que em caso de fracasso dificilmente terão de regressar ao abrigo paternal.
Por cá, é o que já se sabe: um terço dos menores de 17 anos cresce em situação de pobreza ou exclusão, a taxa de desemprego jovem ronda os 40%, muitos emigraram, e esse é o maior embaraço que tolhe o futuro dos nossos filhos.
Se a busca de soluções para este fracasso geracional não for encarada como prioridade política do mais longo ciclo eleitoral que aí vem, não restará muito de que nos possamos orgulhar, 41 anos depois de Abril.
P. S.: A notícia caseira das últimas horas não é que Passos Coelho e Paulo Portas tenham anunciado a coligação que ninguém acreditava que não fizessem. Foi, isso sim, a escolha do dia e da hora: ao assaltarem os telejornais do 25 de Abril, eles quiseram apropriar-se da data. Brilhante!, dirão os marqueteiros da política.
Acontece que o Dia da Liberdade, que felizmente também é de Passos e Portas, não se dá bem com tutelas partidárias. Além de que nem um nem outro acrescentaram nada ao que o Programa de Estabilidade deixou antever, como pré-acordo da coligação.
Para número de teatro, só a Portas faltava o cravinho na lapela.