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1. A sondagem que o JN hoje publica, em parceria com o DN, a RTP e a RDP, sobre as eleições europeias, mostra vários factos interessantes. De entre eles, há um particularmente relevante para esta altura da peleja: mais de metade dos eleitores garante que exercerá o seu direito de voto no próximo dia 7 de Junho. Sabendo nós que, desde 1987 (primeira participação nacional em europeias, na qual votaram 72% dos portugueses), os eleitores fogem destas eleições como o diabo foge da cruz (nos últimos três sufrágios, a abstenção fixou-se sempre acima dos 60%), esta intenção declarada de ir às urnas merece alguma reflexão.
A primeira ideia que imediatamente ocorre é a de que o "povo" está mortinho por ir às urnas para poder ali descarregar o seu descontentamento. E descarregar o descontentamento traduz-se num voto contra o Governo (no caso, contra Vital Moreira, o candidato apoiado pelo Partido Socialista). Pode ser. A sondagem sugere, contudo, o contrário. É que, apesar de a uma curta distância do seu principal rival (3%), Vital Moreira é o candidato mais votado.
Verdade que a percentagem de indecisos (23%) é ainda significativa. Mas, ainda assim, os números revelam, a esta altura, que Sócrates pode arrancar com uma vitória, pelo menos "psicológica", para um terrível ciclo eleitoral em que também se joga a liderança do próximo Governo português. Se assim for, isso quererá dizer uma de duas coisas. Ou os portugueses escolhem penalizar o Governo, mas pouco (facto relevante, dadas as crescentes dificuldades que o quotidiano lhes mete em casa). Ou os portugueses conseguiram, finalmente, entender o motivo pelo qual são chamados às urnas: eleger deputados para o Parlamento Europeu.
Eu voto na primeira hipótese. Que é, de resto, ajudada por outros dois factos da sondagem: a excelente votação (12%) do candidato do Bloco de Esquerda (o que mostra para onde vai o voto de protesto) e a circunstância de os candidatos, todos sem excepção, serem muito pouco conhecidos (o que mostra como não é neles, nem nas propostas políticas que fazem, que os eleitores estão concentrados, quando pensam em que quadrado hão-de colocar a cruzinha).
De modo que, pelo que se vê, Sócrates tem razões para ficar preocupado. Mas Ferreira Leite tem bem mais.
2. Vital Moreira, o candidato do PS nas eleições europeias, foi ontem insultado e agredido por um bando de arruaceiros que estavam na manifestação da CGTP em que se comemorou o 1.º de Maio. A coisa quase fez lembrar a Marinha Grande de Mário Soares. Deplorável. Em certas cabeças, os valores da tolerância e do direito à diferença nunca caberão.