<p>Dizem os especialistas que a ETA se instalou em Portugal porque a sua permanência em França, junto à fronteira, se tornara insuportável, devido à pressão cada vez maior da Polícia. A um leigo como eu estranha que só agora a ETA tenha procurado o território nacional, sabendo-se das nossas fragilidades em questão de vigilância. Agora mesmo, acabado de desmantelar um arsenal em Óbidos, vêm a público divergências entre a Judiciária, a PSP e a GNR. As divergências são velhas, novo é o problema que temos entre mãos.</p>
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Desde que foi descoberta e provada a presença da ETA em Portugal, o nosso país passou a ter responsabilidades acrescidas: primeiro porque entra directamente no combate ao terrorismo; e em segundo lugar porque temos de nos defender a nós próprios de ataques que, por via indirecta, possamos sofrer, por mais improvável que isso pareça.
Tudo isto altera o quadro em que costumávamos operar e estamos agora obrigados a garantir a existência de uma Inteligência em terrorismo, nomeadamente uma Inteligência na forma de actuar da ETA, bem como, naturalmente, teremos de ter um conjunto de operacionais apetrechados, sob todos os pontos de vista, para actuar no terreno. E vai ser preciso uma estreita colaboração - estreita e descomplexada, o que é sempre difícil para nós quando se trata dos nossos vizinhos - com a Polícia de Espanha. O que até agora ouvimos não nos sossega: o presidente do Observatório de Segurança diz que as polícias portuguesas não estão preparadas; e a Judiciária, a PSP e a GNR manifestamente não se entendem. O que se estranha de tudo isto é que tenhamos estado imunes durante tanto tempo. Tudo o resto, a impreparação e os desencontros, são bem portugueses.
P.S. Prevendo-se que eu próprio vá ser ouvido na Comissão de Ética da Assembleia da República devo, em nome de bons princípios, manter toda a reserva até essa altura. Mas, por favor, sejam rápidos na convocatória, pois não posso garantir o silêncio se Paulo Rangel ou seja quem for voltar a dizer que a crónica de Mário Crespo "foi censurada" por "sugestão ou aparente sugestão" do primeiro-ministro. Quererá o ilustre eurodeputado desprender-se de todas as imunidades e sustentar essa tese em tribunal? Ou preferirá espaço aqui mesmo no JN para explicar como terá exercido o primeiro-ministro tal sugestão, ou aparente sugestão, de censura?