Como qualquer aldrabice apilarada, e esta anda por aí há milénios, a astrologia assenta num grande segredo: até quem a pratica acredita nela.
A asserção pode aplicar-se a outras crenças e militâncias, mas não estamos cá para melindrar leitores. Nem para fazer previsões para 2025. Da astrologia, aqui, só interessam os truques, incluindo outro, não tão grande: a “interpretação” do horóscopo, variada e bem estruturada, toca sempre um ou outro nervo sensível da pessoa “cartografada”, que, surpreendida e emocionalmente estimulada, só tem olhos para o aparente acerto da leitura, descartando o resto - “Eu bem sabia que tenho veia de artista!”; “Nasci para ser líder e ando aqui feito pau-mandado!”; “É desta que vou engatar a Ivone do economato!”.
A astrologia serve-se da crendice, e esta manifesta-se pela ausência do espírito crítico necessário a desmontar aquela. É essa, também, a arma da demagogia populista. Qualquer líder carismático sem escrúpulos replica, com o lustro de uma oratória direta e troante, coisas que a massa descontente debita nas mesas de café ou nas redes sociais, pouco importando se intelectualmente desonestas, humanamente degradantes ou moralmente abjetas. E o problema não são os tais líderes. Haverá sempre gente assim.
O drama está na aceitação que a ignorância propicia ou, pior, no ardor com que os “crentes” defendem certezas comprovadamente falsas. Mas também está na sobranceria dos que combatem noutros lados das barricadas. Aliás, pode bem estar no combate fanatizado em si mesmo, pois vivemos tempos de tribalização da sociedade, com as discussões de que pode nascer a luz sendo substituídas por confrontos de ódio entre grupos entrincheirados.
Daí que os votos para 2025 sejam, aqui, francamente utópicos. Que se compreenda como tem falhado a batalha da qualificação, que pare o entretenimento boçal, que a informação seja rigorosa e não sensacionalista, que o ensino não seja estruturalmente facilitista, que cada vez mais pessoas sintam na leitura o prazer inigualável dos infinitos a descobrir. Que todos saibamos encarar o outro, que pensa diferente, com argumentos e não com insultos. E que saibamos ser humildes se percebermos que a razão está do outro lado, pois ninguém é, em si, o lado certo da razão.
*Jornalista

