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À meia-noite de domingo, haveremos de formular os nossos desejos para 2018. Pensar naquilo que não queremos no próximo ano poderá ser um outro modo de perspetivar o tempo novo que chega. Não se trata de antecipar uma esfera pessoal, um país e um Mundo perfeitos, livres de perigos, em que cada peça encaixa num todo virtuoso. Não sei mesmo se esse seria o Mundo desejável, pois o incentivo da melhoria contínua, da procura da justiça, do equilíbrio e da excelência são, inquestionavelmente, o mais poderoso motor da sociedade, de todos e de cada um de nós.
O que não quero, então, para o Ano Novo de 2018? Permitam-me olhar para este desafio numa perspetiva cartesiana, segmentando o futuro próximo nas dimensões pessoal, nacional e internacional.
Gosto particularmente das mensagens de ano novo daqueles que, abdicando de especificar desejos concretos, como uma promoção profissional, a conquista do campeonato de futebol pelo seu clube ou mesmo o jackpot do euromilhões, se remetem ao mais singelo dos desejos: ter muita saúde. É uma espécie de "back to basics", em que se aspira à simples ambição de não ter uma doença, um acidente ou algo do género. Com isso na mão, o resto é mais fácil. E também justo, já que depende do mérito, sempre declinado em talento e empenho. Na dimensão pessoal, será este o meu lema para 2018: não quero que qualquer problema de saúde venha a atrapalhar, a mim ou aos meus, o ano que se agora se abre.
Bem sei que o meu bem-estar depende, e muito, do bem-estar do meu país. Ou seja, também para Portugal tenho a minha caixinha dos "não-quero". Aqui, olhando para aquilo que foi o ano de 2017, será legítimo acreditar que teremos um ano tranquilo no que diz respeito aos "grandes números". Entrar no ano novo com a economia e o emprego a crescer, a dívida pública classificada como "não-lixo" e as contas nacionais controladas faz-nos acreditar que o país não deverá sofrer solavancos dramáticos. Dito isto, o que eu não quero mesmo para 2018 é que haja uma qualquer crise internacional, daquelas que geram efeitos sistémicos, que venha a afetar negativamente uma pequena, mas aberta, economia como a nossa e, com isso, contaminar os esforços que todos nós temos feito no sentido da sustentabilidade da nossa economia. Não quero mesmo isso.
Ainda no plano nacional, não quero que, por detrás de um desejado sucesso "macro", se descurem os sucessos "micro". Falo dos mais frágeis, das desigualdades sociais e territoriais, das tragédias como os incêndios. O outro lado da moeda, que sempre existe e jamais pode ser esquecido. Eis aqui tão-somente o meu desejo de que não se mascarem velhos e "pequenos" problemas com novos e "grandes" sucessos. Este é o equilíbrio que dita a boa política.
Por fim, a dimensão global. Há quem diga que Portugal, sendo pequeno, só pode ter problemas ligeiros. Convém, porém, não esquecer que este país é aberto e permeável, é membro de uma comunidade internacional e parte de um todo global. Assim, não quero mesmo que, em 2018, se mantenha uma deriva de incerteza e insegurança que, às vezes, parece ter tudo para acabar mal. Falo do papel de algumas das principais potências, por exemplo, na crise da península coreana ou na questão israelo-palestiniana. Mas também nas questões regionais como o Brexit ou a Catalunha. Falo igualmente da tensão civilizacional entre o mundo ocidental e o mundo árabe, que tem sido terreno fértil para um terrorismo sem sentido.
Fecho com o maior de todos os desejos. Não quero continuar a assistir à deterioração da nossa casa, do planeta Terra. Sem casa, até os conflitos perdem palco. Todos, todos mesmo, indivíduos, famílias, organizações, empresas, cidades e países, temos responsabilidades na mitigação das alterações climáticas. Por mim, em 2018, vou emitir menos gases de efeito de estufa do que em 2017. Juntem-se a mim. Bom ano para todos!
PROF. ASSOCIADA COM AGREGAÇÃO DA UMINHO