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As manifestações que encheram as ruas de muitas cidades no sábado vieram demonstrar que o acesso a uma habitação de preço acessível não é um entre os muitos empecilhos na vida dos portugueses. Estamos mesmo perante “o problema” do momento. As soluções possíveis estão tanto a montante - elevar salários ou aumentar a oferta pelos privados ou pelo Estado - como a jusante - apoio mais reforçado e alargado às rendas e flexibilidade para negociar os créditos à habitação.
O Estado português tem aplicado mais as soluções a jusante, opção que apresenta uma clara desvantagem para as famílias: os promotores imobiliários podem continuar a autolimitar-se na edificação de novas habitações (reabilitar é a regra) e a praticar preços exorbitantes. O motivo é simples: a clientela, portuguesa ou estrangeira, aparece sempre para agarrar os poucos imóveis disponíveis. O fluxo turístico - de lazer ou de negócios/investimento - ajuda a inflacionar os preços em muitas áreas metropolitanas e também nas cidades de média dimensão. Os estudantes e as suas famílias integram, de resto, o lote das vítimas do dinamismo imobiliário agressivo.
Embora a importação integral de modelos seja sempre discutível, vale a pena olhar para o caso da capital austríaca. Cerca de metade da população de Viena, onde vivem 1,8 milhões de pessoas, tem direito a uma casa subsidiada. A autarquia é proprietária de 23% do parque residencial, mantendo parcerias com associações de habitação sem fins lucrativos que disponibilizam imóveis a custo controlado. O Estado regula o mercado de arrendamento, evitando a especulação, e protege os inquilinos de práticas abusivas. Viena é outra música? Talvez, mas vale a pena experimentar. A escolha entre pagar a casa ou comer não é de um país de primeiro mundo.