A 25 de Abril de 2011, com a Assembleia dissolvida, Cavaco juntou os antigos presidentes em Belém. Também se aproveitou o dia para eleições, como em 1983.
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Todavia, aqueles que sempre se supuseram donos do regime, e democratas profissionais, a dada altura, depois de 2011 e até 2016, passaram a ter nojo de comparecer na cerimónia. Repugnava a militares "de Abril", e, sobretudo, a eméritos socialistas a ideia de se juntarem numa mesma celebração oficial com eleitos democraticamente. Apenas não eram das suas simpatias políticas e pessoais. Em quarenta e três anos, a cerimónia oficial da Assembleia trivializou-se. Passou para a parte da manhã quando a maior parte do país, e bem, está a descansar aproveitando o feriado. Este ano, o terceiro período do estado de emergência "apanha" o 25 de Abril e o 1.o de Maio. Com receio que, da pandemia, saltasse alguma deriva antidemocrática, o improvável presidente do Parlamento, com a cumplicidade de Marcelo, marcou a comemoração em plenário à qual deverão comparecer 77 deputados e 50 convidados. A desculpa de Ferro? Tem de ser celebrado à viva força, não vá o país julgar que estão a ceder à "pandemia, ao estado de emergência ou a pressão de saudosistas, antiparlamentares ou seguidores de fake news". São as mesmas pessoas que nos pediram, com instrumentos jurídico-políticos, para respeitar a pedagogia antipandémica, evitando agrupamentos e mantendo pacientemente distâncias. Um pacote que inclui a proibição de frequentar lugares de culto religioso, o luto em funerais, manifestações de rua - com as nuances "marcelistas" constantes do decreto presidencial por causa do 1.oº de Maio -, não sair à rua salvo por estrita necessidade ou actividade dita essencial, não assistir a aulas presenciais, etc. A tudo, até muito antes do estado de emergência, o país aquiesceu tranquilamente. Em Inglaterra, a rainha, uma senhora que andou pelas ruas de Londres bombardeada ao lado do seu povo, prescindiu da comemoração oficial do seu 94.oº aniversário amanhã. É a primeira vez em 68 anos de reinado. Não precisa de ser politiqueira, evidentemente. E nunca cairia na vulgaridade como a sra. Temido: "não prescindiremos da comemoração". O país, naturalmente, ignorará o exercício demagógico. E a partir de dia 26 fica livre para seguir o "exemplo". Quem não se sabe dar ao respeito, não merece nenhum. É o que o 25 de Abril lhes tem a dizer.
*Jurista
O autor escreve segundo a antiga ortografia