Estamos em Washington. 2054. Um departamento policial consegue prever o crime através de uma equipa constituída por uma espécie de agentes de segurança videntes. São três. Têm visões e os culpados são culpados antes de o serem. A história futurista é contada por Steven Spielberg em "Minority report", baseada no conto de K. Dick. O escritor psicadélico, cheio de paranoias, com cinco casamentos provavelmente desfeitos pelo vício das anfetaminas, mas que, de alguma forma, antecipava os novos tempos com a sua ficção científica.
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E, como em todos os filmes, há sempre uma moral da história. Que os olhos nem sempre mostram o que realmente estão a ver pode ser uma delas.
Sem a capacidade de prever o futuro, a maior parte dos portugueses percebeu rapidamente que alguns governantes tinham de deixar de o ser. E deixaram. Uns demoraram mais tempo, outros abandonaram o cargo poucas horas após os títulos dos jornais mostrarem o que os olhos de quem os nomeou não viram.
É, portanto, preciso ver melhor. Saber mais. Saber tudo. Ter a garantia que a escolha do futuro assegura a eficácia da decisão do presente. Foi o que o Governo fez. Admite erros de casting e avança com um mecanismo político de verificação de quem convida para exercer uma missão pública.
Mas se 36 perguntas e respetivas respostas podem decidir a integração de um candidato a governante num Executivo, nenhuma delas garante a integridade nem uma relação de confiança com os cidadãos. Nem assegura que, após o término da nobre tarefa que lhe foi incumbida, siga caminhos interesseiros resultantes do compromisso que anteriormente assumiu.
Não é um questionário, por muito elaborado e exaustivo que seja, que resolve a falta de sentido de serviço público, nem garante um pacto com cada um dos portugueses. Não são os requisitos que fazem um político. É a honra.
Diretor-adjunto