Os resultados do PISA (Programme for International Student Assessment), conhecidos esta semana, deixam-me inquieta. Não por serem inesperados, mas por evidenciarem um sistema escolar incapaz de corrigir falhas há muito identificadas.
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E essas limitações lá vão sendo arrastadas para o Ensino Superior e, depois, entram inevitavelmente no mercado de trabalho.
Alunos sem adquirirem competências mínimas para resolver situações do dia a dia, desinteressados na leitura e indisciplinados: estes são alguns traços comuns a boa parte dos estudantes que saem do 2.oº Ciclo do Ensino Básico. E que o Ensino Secundário parece não estar a corrigir.
No meu caso, reconheço que já foi mais fácil dar aulas. Este ano letivo, tenho repetido isso aos meus alunos de licenciatura. Hoje, manter uma turma desperta para os conteúdos lecionados exige permanentes estímulos da atenção. Munidos de telemóveis topo de gama e de computadores ligados à Internet, os estudantes estão em contacto contínuo com os amigos através de plataformas de conversação e ininterruptamente agarrados a redes sociais. O que fazer? Proíbem-se as tecnologias na sala de aula? Nos cursos de Ciências da Comunicação parece até um contrassenso... Mas vamos lá pensar que, aqui e ali, é possível suspender o uso de periféricos móveis. Ora, nesse caso, lá estão eles a olhar para nós sem nos ouvirem, porque, entretanto, ativaram as suas deambulações mentais... Neste novo ambiente, dou por mim a andar cada vez mais dentro da sala de aula para que cada um vá sentindo mais proximidade física; vou também interpelando mais para que ninguém se solte do fio condutor daquilo que vai sendo apresentado; e procuro permanentemente cruzar a matéria teórica com casos práticos para que retenham melhor as matérias...
Outro problema de fundo é o da leitura. Quando faço provas orais, aviso previamente os alunos que uma nota superior a 16 valores implica leituras adicionais. Antecipo também a primeira pergunta que costumo fazer: "Conte-me como se preparou para esta prova e diga-me por favor que leituras fez?". A partir da resposta, vou puxando temas do programa curricular. Mesmo assim, um número significativo de estudantes apresenta-se à prova sem ter lido integralmente qualquer artigo científico e, muito menos, um livro. E eu lá fico perplexa perante tamanho desinteresse.
O que fazer, então? Uma revolução no ensino em todos os graus. É preciso mudar disciplinas, programas, conteúdos e, claro, a formação de professores. Haja coragem e espaço político para isso.
*Professora Associada com Agregação da Uminho