O que procuramos num presidente da Câmara?
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Tenho aproveitado as múltiplas ações das várias candidaturas às autarquias para observar, ainda que à distância, aqueles/as que se propõem para o cargo de presidente da Câmara. Neles/as vejo empenho para mostrar que detêm as melhores propostas e esforço para se darem a ver em gestos de proximidade com o eleitorado. Em vários casos, ressalta um problema de fundo: pouco parece genuíno.
Mais do que um cargo administrativo, quem preside a uma Câmara Municipal deve ser um líder visionário, responsável, próximo, interessado em escutar os seus munícipes, capaz de comunicar num registo empático e, ao mesmo tempo, com alguma densidade. É muito difícil congregar todos estes traços numa única pessoa.
Ainda que a gestão do quotidiano ocupe substancialmente qualquer executivo camarário, quem o lidera deve incrementar políticas que promovam o desenvolvimento sustentável, a inovação e a qualidade de vida da população, reforçando a identidade dos lugares e, simultaneamente, dotando-os de um certo cosmopolitismo, capaz de os projetar com notoriedade para fora de fronteiras. Identificando tendências económicas, sociais, ambientais ou culturais, um edil deve preparar o seu concelho para as ineludíveis mudanças, transformando problemas em oportunidades e inspirando os munícipes a envolverem-se na construção de um futuro que todos ambicionam próspero.
A responsabilidade é outro dos traços fulcrais na ação política a partir da qual germina a confiança dos cidadãos. Cada decisão deve ser devidamente ponderada, com rigor e com ética, sempre tendo presente o bem público. Um presidente responsável assume compromissos, enfrenta as consequências das suas opções e presta contas de forma transparente.
Rasgando caminhos, qualquer autarca deve saber ouvir. Não apenas durante os períodos eleitorais, mas no dia a dia, abrindo na sua agenda tempo para escutar os cidadãos nas ruas, nas instituições ou nos locais de trabalho. Uma escuta ativa permite perceber as necessidades imediatas, mas também os anseios profundos das populações.
A capacidade de comunicar também pesa. Precisamos muito de autarcas que deem a conhecer de forma clara e transparente as suas decisões, os projetos e os objetivos da gestão municipal, transformando ideias em ações em municípios do futuro.
Ora, há que reconhecer que nem sempre são bem estas características que encontramos em muitas candidaturas. Em vez de visão, de proximidade e de transparência, percebemos políticas artificiais, feitas de aparências e discursos ensaiados, mais preocupadas com a imagem do que com a substância. Nestes casos, não é difícil quebrar a confiança e o interesse dos eleitores. E isso é um colossal perigo para a política local que tão importante é para o desenvolvimento do país.