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A recusa de uma comissão de inquérito à CGD pelo PS, PCP e BE, no momento em que, por necessidades de recapitalização, se pretende reclamar dos contribuintes, a começar, um esforço equivalente a mais de 2 % do PIB (4000 milhões de euros), depois de tudo quanto se exigiu e fez em relação ao BPN, BES ou Banif, para lá da absoluta indignidade, mostra o sectarismo e parcialidade da Esquerda, que se for preciso esconde e dissimula a verdade, para afirmação dogmática de virtudes públicas, naquilo que exibem como pecados da banca privada.
Quando o "buraco" aconteceu no BPN, BES ou Banif, acusaram. Quando se conhece na CGD, evitam que se lhe conheçam as causas, exigem mais administradores - de 14 para 19 - e propõem-se aumentar-lhes os salários. As coisas passam-se assim, sem vergonha nem pudor.
No BPN, BES ou Banif tudo foi crime e delinquência. Na CGD, sem sequer se apurar, relevam a "crise económica, desvalorização de ativos e a nova forma de contabilização".
A extrema-esquerda, que nasceu lesta a bramir contra os offshore da vida e a ver "mantos negros de corrupção" nas sombras, recusa avaliar o elefante de indícios que tem à frente do nariz.
Os milhões dos negócios de Vale do Lobo e o financiamento a acionistas controlados por offshore associados a administradores da Escom; o empréstimo de 75 milhões de euros para compra do Atrium Saldanha; o empréstimo de 15 milhões de euros a Thierry Roussel; os financiamentos de 500 milhões de euros a acionistas para reforço de posições no BCP que agora valem nada; a transição para a Administração do BCP de administradores da CGD que antes tinham aprovado estes empréstimos; a promoção de Armando Vara para o escalão máximo de vencimento na CGD, mês e meio depois de ter trocado o banco público pela Administração do BCP; e tanto mais que foi notícia. Nada interessa e nada conta. Tudo, porque agora já não dá jeito nenhum.
A solução fácil, claro, será encontrada mais uma vez no sorvedouro do dinheiro dos contribuintes, com impacto na dívida e nas contas públicas.
Não admira, por isso, que o Congresso do PS tenha ouvido fascinado Pacheco Pereira, militante do PSD, argumentar contra o Tratado Orçamental com o que não se estranharia numa convenção do BE ou do PCP e tenha aplaudido a menção a José Sócrates, com entusiasmo quase "revanchista". No primeiro caso quis afirmar o primado das regras, mas o repúdio das consequências. No segundo, o primado do cartão sobre o primado das regras. É como quem diz, venha o que venha, tanto se lhes dá.
*DEPUTADO EUROPEU