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Há uma pergunta omnipresente nas redações e, decerto, em quem controla algoritmos: o que esperam as pessoas do jornalismo? E as fontes de informação dominantes? Informação rigorosa, entretenimento veloz ou conteúdos que refletem agendas dissimuladas? Um espelho fiel da realidade ou um filtro manipulado daquilo que acontece? As agendas noticiosas estão a mudar, influenciadas por novas dinâmicas tecnológicas, económicas e sociais. E isso obriga o jornalismo a redefinir o seu lugar.
Confrontado com a abundância de conteúdos que jorra de modo descontrolado pelas redes sociais e com uma liberdade de expressão que esbarra em sucessivas bolhas digitais que muitas vezes procuram condicionar ostensivamente os jornalistas, o jornalismo afunda-se numa preocupante crise existencial. Não me junto (de todo!) àqueles que vaticinam o respetivo desaparecimento. O jornalismo continua bem presente nos média tradicionais e em plataformas digitais, mas precisa de saber para quem fala e para quê. Ainda que seja um bem público, necessita de ser rentável e isso constitui uma espécie de quadratura do círculo que vários projetos editoriais são incapazes de desenhar. Faltarão modelos de negócio sustentáveis, mas também ousadia, rasgo editorial e proximidade com as comunidades.
Percorrendo algumas capas dos últimos meses de revistas noticiosas de referência a nível internacional, encontramos temas como: a escalada ("Newsweek"), influencers ("Time"), segurança digital ("The Spectator"), doidos pelos nossos animais ("Courrier International"), a força da gentileza ("Nouvel Obs"), a era do caos ("The Economist"), novos disruptores ("The New Statesman"). Por cá, também percebemos várias mudanças na tematização jornalística. Poderemos ver aí estratégias de sobrevivência num ecossistema mediático marcado por uma competição feroz pela atenção, mas também poderemos olhar para estas transformações como uma evolução do Mundo e, por consequência, do jornalismo que hoje deve ser equacionado com outras variáveis.
Para além dos factos, os cidadãos necessitam agora mais de contextos; para além da neutralidade, faz falta alguma empatia; para além do relato, seria importante haver mais explicações assentes em vários ângulos. O jornalismo nunca pode circunscrever-se àquilo que os públicos querem. Deve também ser aquilo que estes não sabem que precisam, mas que se revela fundamental para a vida de todos os dias. Individual e coletiva. Informar implica estimular pensamento crítico, escutar aquilo que as pessoas pedem e aquilo que calam, constituindo-se os jornalistas como uma espécie de farol. E todos sabemos que um farol não segue um barco. Antes, ilumina caminhos, mesmo para aqueles que não o procuram. Sobretudo para esses.