<p> </p> <p>Haverá uma luz ao fundo do túnel, depois da troca de vivos por mortos, entre Israel e o Líbano? E quanto ao papel, discreto, da Alemanha? </p>
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Corria o ano de 1979. O conflito israelo - palestiniano estava no auge, meia dúzia de anos depois da carnificina de Munique. Samir Quntar tinha só 16 anos, quando integrou o pequeno comando (quatro homens fortemente armados) da "Operação Nasser".
Tratava-se de uma acção da Frente de Libertação da Palestina (FLP), contra a cidade costeira hebraica de Nahariya. Descoberto e acossado pela polícia, o grupo atacante tomou, como reféns, os membros da família Haran. O pai e a filha Einat, de quatro anos, foram mortos na praia, um em frente do outro. A criança tinha o crânio despedaçado, e Quntar foi acusado pelo crime hediondo.
Negou-o sempre, mas não havia álibi. A verdade é que tinha praticado um crime de guerra indesculpável: a tomada de civis como escudos.
Na prisão em Israel, Quntar casou-se com uma árabe local, que recebia uma pensão por ter o marido detido. Formou-se, por correspondência, em ciências sociais e políticas. Divorciou-se, sempre no cárcere, e preparou outra vida. Acaba de ser libertado, na troca de mortos por prisioneiros, entre o estado judaico e o Hizbullah, o "Partido de Deus" do Líbano.
As autoridades de Jerusalém e Tel Aviv tiveram de engolir muitos sapos vivos, nesta decisão. Mas sustentavam o dever moral de fazer regressar os seus soldados a casa, vivos ou mortos, para lhes prestar homenagem e os devolver às famílias e entes queridos. No âmago do governo Olmert, sabia-se, desde há algum tempo, que os dois militares, capturados num raid fronteiriço, tinham sido feridos, e depois mortos. Mas as famílias não foram informadas, e ainda tinham esperança.
Por outro lado, a libertação de Quntar, que nunca mostrara arrependimento (e voltou a envergar um uniforme de combate, saudando as massas que o recebiam, no Líbano), foi um choque para muitos israelitas. Do lado do "Partido de Deus", havia também muitas famílias, à espera de mais de uma centena de caixões, e o círculo próximo de quatro combatentes, libertados com Quntar. A saudade não tem só um sentido.
Pode ser que, do ódio e do recalcamento, das lágrimas e da dor, saia alguma coisa. Pode ser que a troca seja o começo de uma relação mais saudável entre o Líbano e Israel, sem que esta se centre no problema do "Hizbollah". Mas o precedente pode também provocar oportunistas. É ainda muito cedo para ter esperança.
No meio do diálogo agreste, uma entidade voou a alto nível: a Alemanha, através da diplomacia e dos serviços secretos. Desde 2006 que três pessoas se encarregavam de supervisionar os contactos entre Israel e a milícia libanesa: Ernst Uhrlau, o director do serviço de informações externo, o BND, experimentado mediador do Médio Oriente, o general Georg Von Brandis, especialista da "inteligência" militar, e o discreto Klaus Dieter Fritscher, coordenador dos serviços secretos no gabinete Merkl.
A sua luta obstinada era por uma troca que não se resumisse à entrega de vivos e mortos. Uma troca que pudesse significar um recomeço, em bases sólidas. Uma troca onde a base política fosse tão importante como os rituais.
Berlim é um jogador fiável, e um parceiro que goza da confiança das várias partes. Isso acontece por uma complexidade de factores. Mas os alemães merecem aqui um elogio sincero, desproporcional à sua modéstia.