Liberdade. Não temos medo, leu-se nas primeiras manifestações após o terror. Mas será difícil não termos. É humano temer que a qualquer momento o horror irrompa, é humano temer a morte, é humano temer a incerteza de não saber de onde irá surgir um novo ataque.
O terrorismo alimenta-se do medo. Da capacidade de nos fazer acreditar que é capaz de atacar, em simultâneo, em qualquer ponto do Mundo. O difícil, sempre que a tragédia ganha dimensão, é não nos deixarmos paralisar pelo medo. É preciso continuar a viver mantendo a liberdade como palavra de ordem. Sem nos deixarmos vencer pela tentação do securitarismo. Sem criarmos estados de tal modo dominados pelo policiamento que se tornem prisões.
Igualdade. Combater o terrorismo é um objetivo que nos deve mobilizar a todos. Sem histeria nem precipitação. Se olharmos para o que tem sido o Mundo desde o 11 de setembro, será irrealista não admitir que não ganhámos nem um milímetro nessa guerra. Basta ver quão recente é o Estado Islâmico, com toda a sua capacidade de organização, mobilização e financiamento.
O combate contra o terrorismo não é (apenas) bélico. Porque as causas são múltiplas e muitas delas sociais. Começam desde logo na desigualdade, um combustível para o ódio. O Mundo está mais desequilibrado do que nunca e não deve confundir-se o que não deve ser confundido. Combater os culpados, sem clivagens nem preconceitos. Chorar Paris é também chorar Beirute e todas as cidades "deles" em que as bombas e kalashnikovs são o pão nosso de cada dia. Não faz sentido voltar a erguer muros que não nos protegem e questionar o acolhimento de refugiados que fogem dos mesmos extremismos que nos preocupam.
É fácil de entender que um ataque em Paris nos comova mais que outro, na véspera, em Beirute. Muitos temos família ou amigos a viver lá ou já visitámos a cidade. Mas o extremismo e a sua destruição são os mesmos, seja qual for o lugar em que matam.
Fraternidade. Esperamos, dos nossos decisores políticos, que ajam e nos protejam. Nem sempre medimos devidamente o papel que é de todos nesta mobilização contra os extremismos. Em cada palavra que debitamos nas redes sociais, tantas vezes a destilar intolerância e ódio. Em cada momento do quotidiano em que nos fechamos no nosso conforto. Em cada gesto em que cedemos ao medo. Como se leu pelas ruas de Paris, amemos a música e a alegria. Porque só a Humanidade pode vencer o terror.
Cada um de nós, à sua escala, é responsável pelo que semeia. Falta ternura no Mundo.
