A minha carteira tem duas características: anda recheada de cartões - poucos de débito e menos de crédito, cartão frota, cartão da empresa, carteira de jornalista, etc... - e de papelada e, quase sempre, com pouco dinheiro. É rara a vez em que trago comigo mais de 10 ou 15 euros. Azar dos azares: no passado sábado, a dita cuja desapareceu, muito provavelmente tirada do bolso do meu casaco, com impecável maestria, por um meliante que se passeava pelo Arrábida Shopping. Azar dos azares, parte dois: nesse dia, tinha cerca de 150 euros na carteira. Doeu...
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Mil e uma voltas depois, dentro e fora do centro comercial, o choque inicial amenizou. Faltava pedir ao banco para anular os cartões, regressar a casa e esperar por segunda-feira, para fazer a via sacra do novo pedido de cartões.
Como não enfrentava há vários anos a infernal máquina burocrática do Estado, preparei-me para um verdadeiro calvário. Enganei-me redondamente: em pouco mais de duas horas, sem grandes filas nem pequenos incómodos, resolvi (quase) todos os problemas na loja do cidadão do mesmo centro comercial e na das Antas.
Quer dizer: o Estado respondeu, solícito e com bastante eficácia, ao meu problema. É a obrigação do Estado? É. Mas, para sermos justos, temos que pensar no que acontecia há não muitos anos: numa situação idêntica, teria sido obrigado a pedir um novo bilhete de identidade num sítio, o número de contribuinte no outro, a carta de condução num terceiro, a anulação dos cartões obrigar-me-ia a deslocar às sucursais dos bancos, e por aí fora... Não chegaria um dia para resolver o que resolvi num par de horas. O desenvolvimento do país também se mede por aqui.
Claro: não há bela sem senão. E o senão encontrei-o na estação dos CTT de Canidelo, freguesia onde vivo. Um dos cuidados a ter nestes casos é enviar para o Banco de Portugal (BdP)fotocópia da participação feita na Polícia, de modo a que o meliante não use identificação falsa na aquisição, por exemplo, de um crédito ao consumo. A pressa em "matar" esta possibilidade obrigou-me a optar por enviar um fax para o BdP. A coisa custou-me 2,95 euros. Exatamente: 2,95 euros. Abri a boca de espanto, quando a senhora da estação me disse o preço. Ainda me apeteceu perguntar-lhe se já lá devia alguma coisa, não fosse uma parte daquele bárbaro montante servir para acertar contas. Acabei por engolir em seco e seguir em frente...
O Estado, que tão bem me tratara, acabara de me roubar. E eu tive a certeza (ainda mais) absoluta de que nunca votarei em partidos que se oponham à privatização de serviços públicos como este. A falta de concorrência abre espaço a esbulhos destes. Eu não gosto!
* Bem sei que a palavra correta a usar é furto. Mas, na verdade, eu senti-me mesmo roubado.