A questão é a seguinte. Que postura os deputados comunistas irão adotar quando o presidente ucraniano se dirigir aos portugueses na casa da democracia?
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Na verdade, os parlamentares ficam numa posição delicada. Ao considerarem que "a Assembleia da República, enquanto órgão de soberania, não deve ter o papel de contribuir para a confrontação, para o conflito, para a corrida aos armamentos", depreende-se que não estarão presentes no hemiciclo quando Volodymyr Zelensky fizer a sua intervenção. Ao marcar presença não estariam a legitimar o que criticam?
Tendo em conta a história e os compromissos políticos do PCP, os deputados dificilmente estarão ausentes nesse momento. Fizeram-no em 1985 quando Ronald Reagan discursou no Parlamento, mas, nas circunstâncias e fragilidade eleitoral atuais, dificilmente repetirão o gesto. Não se manifestarão, não baterão palmas, mas ocuparão os seus lugares na Assembleia da República. Outros partidos, considerados extremistas, não o fizeram.
Ontem, vários partidos da oposição helénica, incluindo o partido comunista KKE e a Solução Grega da extrema-direita, não estiveram a ouvir Zelensky na sessão parlamentar extraordinária. O KKE argumentou que o Governo ucraniano legitimou a "propaganda nazi".
Em março, o cenário repetiu-se. Desta vez em Itália. 20 políticos, da esquerda à direita, não participaram na sessão que apelidaram de mera operação de marketing. Já em França, Marine Le Pen só assistiu à sessão por pressão mediática.
A segunda desculpa do PCP para se opor à presença, virtual, do presidente da Ucrânia no Parlamento é ainda mais incompreensível. Argumenta a líder parlamentar Paula Santos que "as sessões com intervenção de chefes de Estado na Assembleia da República, ao longo dos últimos anos, têm sido muito limitadas" e realizam-se na sequência de visitas institucionais ao país. Não vale a pena explicar as razões por que Volodymyr Zelensky não pode sair da Ucrânia. Não vale a pena para a maioria dos portugueses. Para uma minoria parece que ainda há dúvidas....
*Diretor-adjunto