Num mundo em que um telemóvel é uma arma, o primeiro-ministro do Canadá achou que poderia gozar Donald Trump, em pleno Palácio de Buckingham, e que ninguém iria registar o momento.
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E como é difícil admitir que os grandes líderes mundiais são ingénuos ao ponto de acreditarem que o que dizem em público fica circunscrito ao grupo restrito das pessoas que os estão a ouvir, só podemos tirar uma conclusão: falar mal do presidente norte-americano é politicamente e socialmente aceite. É mesmo um bom desbloqueador de conversa. Caso contrário, Justin Trudeau não assumiria com naturalidade que as pessoas que o ouviam acompanhavam o tipo de escárnio com o mesmo deleite com que ele o clamava. E este grupo restrito incluía Emmanuel Macron, Boris Johnson, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, e a princesa Ana, filha da rainha de Inglaterra.
Não interessa fazer juízos de valor. Não interessa se Donald Trump é o bom ou o mau da fita. A questão aqui não é essa. A questão é que coscuvilhar ou transformar uma receção diplomática num recreio de escola primária, onde se tenta ter graça para se ser popular, não só descredibiliza os protagonistas como as próprias instituições. Pior, é esquecerem-se de que são porta-vozes de países historicamente aliados dos Estados Unidos.
O momento tem algo de divertido, é certo. Como tem algo de ridículo. Políticos a gozar com políticos e outros a amuarem e a abandonarem o local como forma de protesto.
Mesmo que o desvalorizem, todos devem estar a pensar que o melhor era mesmo fechar a Internet para que ninguém pudesse ver ou ouvir o episódio. Um pouco como a deputada Joacine fez por cá ao encerrar a sua conta no Twitter. É que lidar com as críticas e com a realidade é um caminho bem mais difícil do que celebrar a glória.
*Diretor-adjunto