O envelhecimento constitui um dos grandes desafios para as próximas décadas e por isso é mandatório que se aposte com toda a convicção na prevenção, educação e literacia em saúde.
Corpo do artigo
Calcula-se que, nesta altura, já esteja a ser dedicado algo mais que 2% do PIB nacional às doenças desta população e, naturalmente, a estimativa é que este valor venha a crescer significativa e rapidamente se realmente se quiser responder eficazmente a este importante desafio demográfico. Este é, apenas, mais um dos muitos exemplos em que se verifica que a revolução do digital pode dar um importante contributo em termos de qualidade de serviço, bem como de custo de efetividade.
Neste sentido, o investimento na saúde digital é o grande desiderato dos nossos tempos. Ficou em maior evidência quando, no âmbito da recuperação económica proporcionada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), lhe foram atribuídos (com muito pouca ambição, diga-se de passagem), cerca de 300 milhões para a transição digital na área da saúde. Significa, pois, que apesar de tudo muitas ideias vão ter os meios necessários para serem concretizadas, e eu diria que a começar com assertividade, seria com a criação de um registo de saúde eletrónico único. Investir na transição digital é investir na inovação e, sobretudo, nas pessoas. É um investimento que permite o acesso rápido às tecnologias, encurtando o tempo para chegar ao diagnóstico e consequentemente às soluções terapêuticas, monitorização ou cura.
Uma aposta consistente na digitalização também contribuirá para um sistema mais sustentável. A criação do registo de saúde único, que fará, finalmente, de cada cidadão o detentor dos seus dados de saúde, é disso exemplo. Se já somos todos "donos" da nossa informação fiscal, por que razão ainda não temos na nossa posse toda a informação clínica? Com a vantagem de que este registo, sendo comum a todos os prestadores (público, privado e social), acabaria com redundâncias e ineficiências no sistema, porque um cidadão não teria de repetir - como agora acontece - o mesmo exame se fosse ao privado e depois ao público. Este registo de saúde único funcionaria em qualquer prestador de saúde, sem barreiras, e como um verdadeiro sistema em rede, que se complementa com o objetivo comum de proporcionar a cada utente, independentemente de onde vive, os melhores cuidados. Portugal necessita de definir uma estratégia de compromisso comum, que inclua todos os agentes da saúde. A sustentabilidade do nosso sistema de saúde, em grande medida, começa aqui. Pode assim abrir-se um caminho para os profissionais de saúde dedicarem tempo mais humanizado e de qualidade às pessoas que acompanham. Pode igualmente criar-se um espaço onde o doente seja parte integrante no seu percurso nos cuidados de saúde e, verdadeiramente, esteja no centro do sistema e de qualquer decisão clínica. Para tal, é fundamental melhorar a comunicação e interoperabilidade entre sistemas de informação através de uma aposta na desmaterialização e circulação de dados, garantindo a confidencialidade, com a uniformização de registos e troca de informações entre todos os prestadores de cuidados de saúde, sejam eles do setor público, privado ou social. Isto é essencial para acelerar a resposta, por exemplo, a um doente que tenha começado a ser acompanhado em Faro e que se tenha, entretanto, mudado para Mirandela. Na estratégia definida no âmbito da recuperação económica, os cidadãos devem ser a prioridade.
Garantir que a inovação está ao alcance das pessoas é uma etapa a considerar, até porque a transição digital é um meio e não um fim.
*Médico