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Ao cabo de 30 anos de promessas e de adiamentos, o mercado do Bolhão conhece, finalmente, o arranque das obras de reabilitação, que avançarão para o seu interior já em 2017. Saúda-se o fim de um impasse que não serviu a ninguém e que em nada beneficiou a cidade, muito pelo contrário. O Bolhão é um dos edifícios mais emblemáticos do Porto, pela sua história (abriu em 1850), pelas muitas gerações que ali se habituaram a "mercar" diariamente, pelo que significa ter no centro de uma cidade de mercadores um tão distinto e resistente exemplo de vitalidade.
Depois das dificuldades, o que importa agora destacar é o consenso que se gerou em torno do modelo de restauro definido pela Câmara do Porto, que garante a manutenção do conceito e dos espaços que sempre fizeram do Bolhão um símbolo. Desenganem-se os que temem a "centrocomercialização" do Bolhão, até porque o maior valor do mercado, que são as pessoas, está salvaguardado. A prioridade dada à preservação do espírito autêntico do Bolhão e o facto de os comerciantes poderem voltar às suas bancas de sempre para prosseguir os seus negócios são decisivos para a convergência quanto ao modelo "clássico" definido para o Bolhão, como para o sucesso desta empreitada de renovação.
Sejamos claros: com um historial tão acidentado, esta era a derradeira oportunidade de salvar o Bolhão tal como o conhecemos. Apesar de haver quem, na sombra de pequenos poderes, pareça querer colocar entraves ao arranque do projeto, os responsáveis autárquicos conseguiram gerar o entusiasmo e o espírito de união necessários para ultrapassar um problema tão delicado como o da localização do mercado temporário. A Câmara do Porto não podia esquecer o património mais importante do Bolhão: as pessoas. E não o fez.
Esta primeira etapa da recuperação do Bolhão tem importantes custos associados. Só as boas contas da Câmara, consolidadas ao longo dos últimos anos, permitem suportar o seu financiamento e concretizar, logo a seguir, a intervenção de fundo, que foi, recorde-se, declarada urgente desde os longínquos anos de 1980. Devolver ao Porto o Bolhão dos nossos antepassados e, acima de tudo, o Bolhão que queremos deixar às futuras gerações, vale bem o investimento e o esforço. Porque a memória de uma cidade é composta pelo que fazemos constantemente no presente. O Porto orgulha-se de ser assim.
*EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO