A Comissão Europeia está a disposta a aceitar que os estados membros da União Europeia apliquem às petrolíferas uma coisa a que muito apropriadamente se chamou "taxa Robin dos Bosques".
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Para que serviria isto? Para obrigar as ditas petrolíferas a pagar uma espécie de imposto sobre os lucros obtidos por via do aumento dos combustíveis. A verba seria depois encaminhada para "causas sociais". O mínimo que pode dizer-se da ideia, tributária da velha e admirável máxima que manda os ricos pagar a crise, é que ela é bonita. Comovente, até.
Por ser tão bonita e comovente, o nosso primeiro-ministro adoptou-a quase de imediato. "Em Portugal, estamos a estudar" a possibilidade de aplicar a taxa originária de Itália, país que, como se sabe, tem sido, nos últimos anos, um exemplo a seguir. A Esquerda - a mais populista, pelo menos - agradecerá que, tantos anos depois, a Comissão Europeia e os países que seguirem este caminho reconheçam como estão certos os que abominam as empresas que apresentam chorudos proveitos em tempos de crise.
O que não se percebe de todo é por que razão não permite, desde já, a Comissão Europeia que a mesma medida seja aplicada aos bancos e às grandes empresas do ramo alimentar, que igualmente apresentam chorudos lucros - os primeiros por causa da crise do crédito, as segundas por causa da especulação que faz disparar os preços e causa gigantes problemas em todo o Mundo. Para ser verdadeiramente justa, a Comissão liderada pelo dr. Durão Barroso deveria mesmo impor um tecto de lucros às empresas. Ultrapassado o limite do aceitável, todos apanhariam com a "taxa Robin dos Bosques". O Mundo seria com certeza mais justo.
Há, ou não, um problema para resolver? Não há um, há vários. Há, por exemplo, o problema chinês e indiano, cujos níveis de procura para satisfazer o crescimento económico fazem disparar os preços da oferta.
Mas também há o problema, tremendo, da especulação. No caso dos combustíveis, do gás natural, do arroz, dos cereais e de uma série de outras matérias-primas, os preços disparam por causa dos especuladores. O que significa que é aí que deve atacar-se o problema: regulamentando as operações especulativas.
Claro que é mais fácil aplicar medidas como a "taxa Robin dos Bosques". Se Portugal for por aí, o primeiro-ministro deve, no mínimo, assumir que o normal será que os preços dos combustíveis aumentem ainda mais, porque as petrolíferas transferirão para nós os seus novos encargos fiscais. Ou seja: quem pagará a "taxa" serão os contribuintes. Mas nada disto, como é óbvio, prejudica a beleza da ideia.